Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Neste momento, após a tréplica da defesa, os sete jurados estão reunidos para responder a mais de sete mil perguntas e decidir se os 25 policiais serão condenados ou não pelas mortes dos detentos. A sentença será divulgada ainda durante a madrugada.
Em sua tréplica de duas horas, a advogada Ieda Ribeiro de Souza, que defende os 25 policiais militares acusados da morte de 52 detentos que ocupavam o terceiro pavimento do Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru, pediu a absolvição dos réus argumentando que o julgamento do Massacre do Carandiru é político. “Imbecil é quem pensa que o julgamento não é político”, disse a advogada.
Segundo Ieda, os 25 policiais militares “sofrem há 21 anos de julgamento político e moral”. E, de acordo com ela, “nada vai recuperar isso”. Para a advogada, faltou coragem aos promotores e ao Judiciário brasileiro para “ficar ao lado desses homens”.
Em sua argumentação, a advogada atacou órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), dizendo que ela não deveria intervir em questões nacionais. “O processo não foi arquivado até hoje porque as pessoas não tiveram coragem. Elas precisam mostrar para a ONU que puniram”, disse. “Faltou coragem para ficar ao lado desses homens”, completou, apontando para os réus. “Ninguém teve coragem de dizer para a ONU: 'vai te catar'. É por isso que o processo está aí até hoje”, ressaltou.
Em abril, dias após a condenação de 23 policiais militares pela morte de 13 detentos que ocupavam o primeiro pavimento do Pavilhão 9, a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Cécile Pouilly, parabenizou o Brasil pelo resultado do julgamento.
Os promotores intervieram diversas vezes durante a apresentação da tréplica da advogada, principalmente quando ela os criticou, dizendo que são novos e estão há pouco tempo no caso. O promotor Eduardo Olavo Canto Neto respondeu, dizendo que ela está há 20 anos trabalhando neste processo “tentando empregar a mesma tese e não consegue”.
A advogada também criticou o fato de os promotores do caso terem pedido hoje (2) a absolvição dos réus por 21 das 73 mortes que lhe eram imputadas. Segundo ela, faltou coerência aos promotores. “Queria que o Ministério Público mantivesse a coerência e denunciasse certo. Eles [réus] descobriram só hoje que são acusados por apenas 52 mortes”, declarou.
Uma das teses da defesa é que não é possível individualizar a conduta dos policiais militares, determinando qual policial matou qual detento. “Quero saber de qual arma saiu essa bala. É preciso dizer quem fez o quê? E eu insisto nessa tese”, disse.
Durante a tréplica, a advogada leu cartas e documentos enviados pelo agente de segurança e presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo em 1992, Darci da Silva (já falecido), ao governo estadual nos quais relatava vários problemas na Casa de Detenção, tais como a existência de armas, possibilidades de rebeliões e casos de corrupção de funcionários. O agente cobrava uma atitude do governo sobre isso. “Cinco dias após o massacre, no dia 7 de outubro de 1992, Darci relatou que tinham encontrado oito bananas de dinamite, uma submetralhadora e uma granada de mão na caixa de água da Casa de Detenção”, declarou a advogada.
Ieda criticou o governo estadual, dizendo que o estado não fez nada sobre as várias ocorrências relatadas pelo agente. “O governo foi alertado de que isso estava acontecendo. Mas o governo se interessou? Alguém foi responsabilizado? Os funcionários foram investigados? O que fez o governo? Absolutamente nada”, ressaltou. A advogada citou também a onda de ataques de maio de 2006 na capital paulista, atribuídas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), e disse que o governo sabia que os ataques aconteceriam, mas não avisou aos policiais, mais de 70 foram mortos nos confrontos.
Ieda também apresentou trechos do filme Salve Geral e de várias matérias jornalísticas mostrando, principalmente, a violência cometida contra policiais militares. Havia imagens também de assaltos e de crimes recentes, como os dois casos em que dentistas foram queimados e mortos, após assaltos em seus consultórios. “Esse é o dia a dia de todos os policiais que estão aqui”, declarou.
Outro argumento usado pela defesa, é de que havia armas dentro do presídio e que os policiais agiram em legítima defesa. “Se teve ferimentos [em policiais], teve confronto”.
Edição: Aécio Amado
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