Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – “Tive uma arma apontada para a minha cabeça, na minha casa. O soldado que decidiu não me matar disse: “Agora se manda, que alguém vai vir terminar o serviço”. Fui para o aeroporto e peguei o primeiro avião, que era para o Brasil”. O relato do artista plástico angolano Bantu Tabasisa narra uma situação ocorrida há 19 anos, quando ele precisou deixar seu país de origem em razão de conflitos políticos e buscar refúgio no Brasil. O Comitê Nacional para Refugiados estima que existam, atualmente, 4.336 refugiados no país, dos quais 1.845 estão em São Paulo.
Hoje (22), Dia Mundial do Refugiado, 150 pessoas acolhidas no Brasil participaram de uma atividade de trocas culturais no Serviço Social do Comércio. Apesar da dificuldade com o idioma, colombianos, malineses, congoleses, entre outras nacionalidades, apresentaram brincadeiras características de seus países. Uma jovem congolesa ensinou uma atividade similar ao cabo de guerra, mas que, no Congo, é feita com os próprios participantes.
O grupo que participou das atividades é atendido pela Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, que mantém um centro para acolher refugiados no centro da capital paulista. “São populações que chegam muito fragilizadas do processo de transição, seja pelo conflito no país de origem ou pelo próprio percurso. Quando chegam aqui, a dificuldade inicial é a questão da língua”, explicou Maria Cristina Morelli, coordenadora do centro.
Além da assistência social prestada aos refugiados, o centro orienta e presta serviços na área jurídica e de saúde mental. “Muitas vezes, eles chegam e nem sabem que estão no Brasil. As dificuldades são muitas”, apontou. Morelli destaca que a ação inicial é orientá-los a regularizar a situação de refugiados, o que os possibilita obter os direitos da cidadania brasileira. “Quando iniciam o processo, eles adquirem um visto provisório que os permite trabalhar, por exemplo. Eles tiram Carteira de Trabalho e CPF [Cadastro de Pessoa Física]”, explicou.
Foi o que aconteceu com o colombiano Pedro, 40 anos, que pediu para ter o sobrenome omitido. Os conflitos armados no país dele o tornaram perseguido político. “Vim em busca de trabalho. Trouxe minha filha. Agora estamos bem. Pretendo voltar ao meu país, mas só para passear e visitar minha família. Minha mãe pergunta muito se não vou voltar”, declarou. Ele está no país há cinco anos e trabalha como auxiliar de limpeza.
A Agência das Nações Unidas para Refugiados estima que 45,2 milhões estejam deslocadas em todo o mundo, segundo dados de 2012. No último ano, o número aumentou em cerca de 2,3 milhões, na comparação com 2011. A maioria deles vêm de cinco países: Afeganistão, Somália, Iraque, Síria e Sudão. No Brasil, a Angola lidera em número de refugiados, seguida pela Colômbia e Congo.
Edição: Beto Coura
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