Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O advogado do ciclista David Santos Sousa, 21 anos, que perdeu o braço direito após sofrer um acidente no dia 10 de março, na Avenida Paulista, em São Paulo, disse na tarde de hoje (26) que pretende entrar na Justiça com uma ação indenizatória por danos moral e material contra o motorista atropelador, o estudante Alex Siwek.
Ademar Gomes declarou ainda que pretende manter a tese de dolo eventual para o acidente (quando se assume o risco pelo crime). “Entendo que houve realmente o dolo eventual. Na realidade, ele [Siwek] cometeu o crime com agravantes, já que estava embriagado, ultrapassou o sinal vermelho, invadiu a ciclofaixa, não socorreu a vítima e o mais grave de tudo, ainda jogou o braço no rio”, disse.
O acidente aconteceu por volta das 5h30, quando David se dirigia ao trabalho. Ele pedalava pela ciclofaixa de lazer instalada na Avenida Paulista quando foi atingido por um carro dirigido em alta velocidade. Siwek fugiu do local. Mais tarde, ele se entregou à polícia e contou ter jogado o braço de David, que ficou preso no carro, em um córrego da Avenida Ricardo Jafet, na zona sul da cidade. Na última quinta-feira (21), Siwek, que estava preso, foi solto após um pedido de habeas corpus. O ciclista recebeu alta do hospital na manhã de sábado (23).
Hoje, ao lado do advogado, da mãe, Antonia Ferreira dos Santos, e das duas pessoas que o socorreram: o estudante de publicidade e propaganda Thiago Chagas dos Santos, de 26 anos, e o coordenador de informática Agenor Pereira Junior, 41 anos, David disse que, apesar de ter perdoado Siwek, espera que ele seja punido com rigor pela Justiça
“O sentimento que tenho por essa pessoa [Siwek] é realmente de pena. Perdoo ele sim. Se eu tiver a oportunidade de chegar para ele e olhar em seus olhos, vou perdoá-lo. Mas espero que a Justiça seja bem severa porque, na verdade, eu estava morto. Se não fosse o Thiago [Thiago Chagas dos Santos, uma das pessoas que o socorreram], eu não estaria vivo hoje. O Thiago me trouxe de volta à vida”, disse. Pela primeira vez, o ciclista se encontrou com Thiago e Agenor, e os abraçou. Emocionado, David chamou-os de “anjos da guarda”.
“Eu e o Agenor estávamos saindo de uma festa, naquela mesma noite, por volta das 5h30 da manhã. Subimos a Brigadeiro [Avenida Brigadeiro Luiz Antônio] para deixarmos dois amigos no metrô e quando saímos da estação para pegar o táxi, ouvimos um barulho do acidente, uma batida forte. Saí correndo para ver o que estava acontecendo e pedi para o Agenor para ligar para o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Emergência]”, disse Thiago, que tem curso de primeiro socorros.
“Na hora que olhei, achei que ele [David] tivesse morrido. Comecei a ver pulso, respiração e não os senti. Vi que não tinha muito tempo porque ele estava perdendo muito sangue, pois estava sem o braço. Fiz respiração boca a boca e quando comecei a massagem cardíaca, vi ele se mexendo um pouco. Vi que o pulso voltou. Apertei o braço dele para parar de sangrar até que o socorro aparecesse”, completou.
David disse que pretende voltar a andar de bicicleta e a desenhar. Como é destro, revelou que já está treinando desenhar com a mão esquerda, mas que quando colocar a prótese, que será doada, acredita que voltará a desenhar com a mão direita também. “Meu foco é continuar a vida do que jeito que ela era e voltar a trabalhar”. Ele também pretende criar uma associação de proteção aos ciclistas e espera receber ajuda das pessoas para poder começar imediatamente um tratamento de fisioterapia, previsto para começar na rede pública somente em setembro. “Vimos que só tem vaga em setembro. Mas ele precisa disso logo”, disse o advogado.
Edição: Aécio Amado
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