Colombianos protestam contra sequestros das Farc

15/02/2013 - 17h39

Leandra Felipe
Correspondente da Agência Brasil/ EBC

Bogotá- Há 13 anos, Hernan Bustos Diaz foi sequestrado pelas Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc). O sequestro ocorreu perto da cidade de Villeta, a 79 quilômetros da capital colombiana, Bogotá. Segundo Hernan Bustos, de 42 anos, o pai foi sequestrado quando ia entregar dinheiro para os guerrilheiros das Farc, que haviam sequestrado seu irmão. “Meu pai foi levar o dinheiro para que eles libertassem meu tio. Mas, quando chegou lá, a guerrilha liberou meu tio e sequestrou meu pai, esperando ganhar mais dinheiro”, conta o filho.

De acordo com ele, o pai foi sequestrado quando tinha 72 anos. As Farc fizeram contato com a família dois meses depois e pediram resgate, mas a família não tinha condições de pagar o valor pedido. “Nós tentamos arrumar o dinheiro, mas não tínhamos dinheiro. Meu pai tinha dois imóveis alugados e essa era sua renda. Eu sou eletricista e também não tinha condições”, lembra Hernan.

Hernan participou hoje (15) da Marcha contra os Sequestros pelas Farc, em Bogotá. Com uma faixa com o nome do pai, ele explicou à Agência Brasil que não tem mais esperança de que o pai seja localizado. “Meu pai já é contado como desaparecido. A guerrilha não voltou a fazer contato conosco e creio que ele já morreu. Mesmo assim, estou aqui hoje para lembrar ao mundo e à Colômbia que as vítimas do conflito sofrem e precisam ser lembradas".

A marcha foi idealizada pela organização não governamental Vozes do Sequestro e reuniu parentes de sequestrados e de desaparecidos em Bogotá e em diversas cidades do país. Além disso, colombianos no exterior fizeram pequenas manifestações em outros países, como nos Estados Unidos e na Espanha, em frente aos consulados e embaixadas colombianas.
 
Do mesmo modo, Luzmaria Castro, 54 anos, e Cristiovan Aguillera, 57 anos, buscam notícias do filho desaparecido, o militar Harold Daney, desaparecido em abril do ano passado. Segundo os pais, ele estava de folga e viajou para Arauca, para encontrar a família. O militar nunca mais foi visto ou encontrado.

“Harold é considerado desaparecido porque nunca tivemos notícias dele. Mas temos esperança de que ele esteja em poder de algum grupo e que recebemos alguma prova de vida”, diz o pai do militar, que ao ser capturado tinha 32 anos de idade e dois filhos.

Histórias assim fazem parte do cotidiano do país nos quase 49 anos do conflito armado. De acordo com o Registro Nacional de Desaparecidos (RND), há mais de 52.546 desaparecidos no país, mas não existe um número preciso de pessoas que estão em poder da guerrilha.

Organizações, como as Vozes do Sequestro, calculam 3.728 pessoas em poder das Farc, mas não há confirmação oficial. Vários parentes das vítimas participaram da marcha para protestar contra as recentes declarações das Farc em Havana, que, em meio ao processo de paz, declararam “ter direito” a sequestrar militares em combate.

O presidente da Associação de Familiares de Detidos e Desaparecidos da Colômbia, José Daniel Álvarez, disse à Agência Brasil que é difícil distinguir quando o sequestro deixa de ser uma captura para ser tratado como desaparecimento.

Segundo ele, no caso do sequestro, o grupo armado quer que a família saiba que a pessoa capturada está viva em troca de dinheiro ou algum favor. Mas, no caso do desaparecimento, o grupo não tem essa intenção. “Um sequestro, depois de muito tempo sem o contato do grupo e sem prova de vida da vítima, passa a ser tratado como desaparecimento. E isso é doloroso para a família, que pode ser forçada a encarar a realidade de que a pessoa possa estar morta”, diz.

Ele acredita que as famílias chamam a atenção, neste momento das negociações de paz, por temerem o esquecimento, caso seja concluído um processo de paz em Havana, capital de Cuba. “Mais do que protestar contra as declarações das Farc sobre o sequestro, os parentes das vítimas querem atenção, querem que o governo as faça participar do processo, dando-lhes a oportunidade de chegar mais perto da verdade”, declara.

Para o presidente da associação, o governo colombiano tem avançado nas investigações e exumações, mas a participação das famílias ainda é pequena. “Os familiares precisam ser incluídos no processo de paz e na busca de informações de forma ativa”, defende.

Edição: Carolina Pimentel

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