Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Para o advogado Thiago Hoshino, integrante do Comitê Popular de Curitiba, a Copa do Mundo pode ser encarada como uma oportunidade para discutir o modelo de desenvolvimento urbano adotado no país. "Nenhum dos comitês da Copa do Mundo está falando, na verdade, de esporte. Estamos falando de cidade. Os grandes eventos são só uma pequena face, mas que aceleram muito esse processo de desenvolvimentismo [já que] se legitima qualquer coisa em nome do evento", avalia.
A exemplo de Porto Alegre, os curitibanos organizados no comitê também já apontam conquistas do processo de mobilização. Uma das ações destacadas por Hoshino é a obra do corredor metropolitano que abrange oito municípios, além da capital. "Pelo trajeto original, que tinha sido publicado pelo governo, uma projeção feita pelo Observatório das Metrópoles apontava para a remoção de pelo menos 1,1 mil unidades", relembra.
Ele avalia que a pressão dos movimentos populares, somada à carta da relatoria especial da Organização das Nações Unidas (ONU), levaram à alteração do traçado da obra. "Estamos aguardando a publicação do novo projeto, mas o que se sabe é que não haveria praticamente nenhuma remoção", destaca.
De acordo com o diretor técnico da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), Sandro Setim, o último balanço do órgão, enviado em 18 de dezembro ao governo federal, retirou o corredor metropolitano da responsabilidade municipal de obras para a Copa. Isso se deve ao fato de a obra não ficar pronta até março de 2014, conforme previsão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "O nosso esforço será para que ela [a obra] sirva para a Copa também, mas não deve ser terminada nesse prazo", explicou.
O diretor avalia, no entanto, que o atraso não está diretamente relacionado à pressão feita por organizações populares. "Já era decisão técnica e de governo gerar o menor impacto possível nas famílias. A pressão só veio ratificar esse procedimento técnico", declarou. Ele explicou que o traçado original da obra era genérico e, por isso, previa um número de remoções superior. "Quando o traçado foi desenvolvido pelo consórcio responsável, buscou-se um desenho melhor [e permitir a execução] da obra", esclareceu.
Setim informou que ainda não há um número definido de pessoas a serem removidas por causa da obra, porque o projeto ainda está em fase de conclusão. "O número de unidades atingidas não deve ocupar os dedos da mãos, mas não dá para precisar agora porque a informação só é oficial quando da aprovação do projeto. É certo que o número é ínfimo", destacou.
O representante do comitê popular curitibano cita ainda as obras de ampliação do Aeroporto Internacional Afonso Pena como possível gerador de remoções. "Existia desde o final da década de 1980 um projeto de expansão do aeroporto, mas de lá pra cá nunca houve um controle e um planejamento do uso do solo na região e várias comunidades apareceram", relembra. Segundo o advogado, estima-se que cerca de 500 famílias sofreriam as conseqüências da execução dessa obra.
De acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), a construção de uma terceira pista no aeroporto curitibano nunca esteve prevista como ação para a Copa do Mundo de 2014. A assessoria de imprensa do órgão destacou que a infraestrutura atual, que conta com duas pistas, atende "perfeitamente" a demanda do evento.
Ainda segundo a empresa, as intervenções no Afonso Pena referentes à Copa, que são a ampliação do terminal de passageiros, a ampliação do pátio e a restauração da pista, não têm necessidade de desapropriações. A construção da nova pista, por sua vez, está em processo de elaboração de projeto e ainda não há definição sobre possíveis deslocamentos de comunidades.
Edição: José Romildo