Museu da Língua Portuguesa faz reforma para atender às novas regras e tem exposição sobre evolução do idioma

21/12/2012 - 13h08


Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O Museu da Língua Portuguesa, na capital paulista, prepara as áreas de exposição para o início da vigência obrigatória do Novo Acordo Ortográfico. De acordo com Antonio Carlos Sartini, diretor do museu, a partir do próximo mês, as reformas no local estarão concluídas e os textos das exposições passarão a atender às novas regras da língua.

Para ajudar o visitante a conhecer a evolução da ortografia brasileira, uma exposição vai trazer, em janeiro, a linha do tempo com as principais mudanças já ocorridas. “Pontuando, ano a ano, quando foram adotadas reformas na nossa ortografia e contando um pouco os motivos e as mudanças mais significativas”, explicou.

Para Sartini, exposições como essa auxiliam no aprendizado, mas é preciso um tempo maior para absorver as novidades na língua. “É um processo, mas eu tenho certeza de que, em poucos anos, nós nem vamos lembrar mais o que foi alterado. Vamos absorvendo essas mudanças com naturalidade”.

Sartini lembra que a última reforma ortográfica no Brasil ocorreu em 1972, pouco depois que ele se alfabetizou. Ele conta que, na época, as mudanças pareciam muito difíceis de ser incorporadas. “Mas, hoje, a gente nem lembra mais o que mudou".

Foi uma mudança muito pequena. Só tirou os acentos diferenciais, como o circunflexo em colhêr”, completa Maria Helena de Moura Neves, professora da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Luiz Carlos Cagliari, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, conta que a primeira reforma na língua portuguesa ocorreu em 1536. A partir do século 16, as discrepâncias ortográficas entre Brasil e Portugal passaram a prejudicar questões burocráticas, oficias e cartoriais, o que motivou as grandes reformas de 1911 em Portugal e de 1909 no Brasil. “No começo do século 20, estava pronta a primeira reforma sociopolítica e não só acadêmica. De lá para cá houve pelo menos 30 reformas”.

Essas reformas, porém, não surtiram efeitos práticos, uma vez que as pessoas ignoravam a lei. “Antônio Houaiss não se conformava com a história de a gente ter chegado quase lá. Comparando a ortografia de Portugal com a do Brasil, apenas 5% das palavras tinham diferenças ortográficas. Então, ele achava que essas diferenças podiam ser facilmente superadas se Brasil e Portugal fizessem um acordo único”, explica.

Na opinião do linguista, contudo, a ideia de superar as diferenças ortográficas entre as duas nações era uma ilusão de Houaiss. Cagliari comparou a Língua Portuguesa, que tem duas ortografias oficiais, com outros idiomas como o espanhol e o inglês, falados com variações em diversos países. Nesses lugares, porém, não existe uma imposição de leis. “Isso é um absurdo. Não se fazem leis sobre uma coisa que não é objeto de lei, é objeto de cultura”.

Sartini concorda que pode haver uma discrepância entre as reformas impostas por leis e a língua falada. “Há muita discussão em relação à legitimidade desses acordos ortográficos. Quando os acordos representam, realmente, a evolução da língua, essa nova ortografia é muito bem vinda. Em alguns casos pode não ter tanta legitimidade, pode não representar bem a evolução da língua falada”, diz.

Para a professora Maria Helena, a lei que impôs o Novo Acordo Ortográfico não acompanha a evolução da língua. “A finalidade foi política, não foi científica. Não foi porque a língua precisava de alguma mudança, mesmo porque a língua não mudou, só a ortografia”.

Umas das principais observações feitas por acadêmicos acerca da implantação da unificação ortográfica, destacou o professor Cagliari, foi que editoras tinham como objetivo reduzir despesas na conversão de seus livros escritos em Portugal e que eram publicam no Brasil. “Esse argumento é falso porque, com a nova ortografia, aí que teve que mudar os livros. Isso custou muito caro para as editoras”.

Breno Lerner, superintendente da Editora Melhoramentos, concorda que as editoras não obtiveram vantagens com o acordo ortográfico. “Só a reforma do banco de dados do dicionário Michaelis nos custou perto de R$ 1 milhão, custo basicamente concentrado entre 2009 e 2010”.

O faturamento da editora, segundo ele, não teve crescimento representativo. “A gente não sentiu um aumento substancial de vendas”. Surgiu ainda outro problema na editora: a obsolescência do estoque. “Em dado momento, a gente teve que começar a picar livro, porque não adiantava fazer doações com a ortografia errada”, disse.

Com as publicações totalmente reformuladas, a editora já se adaptou à nova ortografia. Para o diretor do Museu da Língua Portuguesa, as mudanças trazidas pela reforma ortográfica a partir do próximo ano serão positivas. “Acho que o acordo vem para o bem. É importante que o português tenha uma forma só no mundo todo, ainda que respeitadas as suas regionalidades que são extremante saudáveis para qualquer idioma”.

Edição: Tereza Barbosa