Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro de Lima, disse hoje (22) que pelo menos uma vítima de homicídio na capital paulista, dentre os recentes casos de assassinatos, teve sua ficha de antecedentes criminais verificada pelo sistema da polícia pouco antes do crime. Isso seria, na opinião de Lima, um indício da participação de policiais nas mortes com características de execução.
“Foi mandado verificar e constatamos isso. Em vários crimes de homicídio no passado [cometidos anteriormente à onda atual de violência no estado], nós detectamos que antes de serem mortas, [as vítimas] tiveram os atestados de antecedentes pesquisados pela polícia. Isso é muito emblemático”, disse após cerimônia de posse do novo secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, no Palácio dos Bandeirantes.
Para o chefe da Polícia Civil, essa ação é um indício de que há participação de policiais nas mortes com características de execução (disparos feitos por homens encapuzados em motos) ocorridas na Grande São Paulo nos últimos meses. “O que tem que ser dito é que o comando da polícia não compactua com o policial que quer fazer justiça com as próprias mãos. Policial que comete crime é pior que bandido”, disse.
O delegado-geral não esclareceu o caso em que a prática foi constatada. “A morte foi na capital e a pesquisa foi na Grande São Paulo. Não lembro o caso com detalhe, mas foi pouco antes da morte”, disse. Segundo Lima, o sistema não permite identificar o policial responsável pela busca. “Não dá pra identificar, porque o que eles alegam é que são milhares de pesquisas. Isso é uma falha, vamos mudar”, prometeu.
O horário e a localização das mortes de civis também apontam para uma possível vingança da morte de policiais, explica o delegado-geral. “A própria sociedade ao receber a informação de que oito homicídios aconteceram em um espaço de tempo curto, em um espaço geográfico pequeno, [percebe que] alguma coisa estranha está acontecendo”, disse.
Lima defendeu que a investigação dos crimes deve ser feita pela Polícia Civil. “Essa divisão de pessoal que patrulha e previne e pessoal que investiga é o padrão internacional. No mundo inteiro é assim. Não adianta querer inventar a terceira polícia, quarta polícia”, criticou.
Durante a cerimônia de posse, o ex-secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, comentou as críticas feitas à atuação das tropas das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), que teriam assumido parte das investigações do crime organizado. “A Rota não atuou nas investigações na ponta, não tirou atribuição de ninguém. Nunca a [Polícia] Civil foi afastada da investigação e do crime organizado, mas é verdade que eu prestigiei a Rota e me orgulho disso”, disse.
Na avaliação do especialista em segurança pública Guaracy Mingardi, conforme entrevista à Agência Brasil no início do mês, uma ação da Rota, no mês de maio, pode ter dado origem à onda de violência na Grande São Paulo.
De acordo com informações da Ouvidoria da Polícia Militar, o caso ocorreu no dia 28 de maio, quando um homem detido após um tiroteio, no bairro da Penha, zona leste da capital paulista, foi morto por policiais da Rota no acostamento da Rodovia Ayrton Senna, quando era conduzido a um hospital. Após a denúncia de uma testemunha, três policiais foram presos. Na operação da polícia, que contou com apoio de outros carros da Rota, cinco supostos criminosos foram mortos porque reagiram à prisão. O tiroteio ocorreu na lanchonete de um lava-rápido.
Na versão da PM, os policiais foram recebidos a tiros por um grupo que foi denunciado por planejar o resgate de um chefe da facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Na ação, seis homens foram atingidos por tiros, cinco deles morreram no local. Três foram presos e cinco conseguiram fugir.
O delegado-geral, ao comentar a declaração do ex-secretário, também nega a atuação da Rota na investigação. “A informação que era dada é que tinha uma denúncia anônima, eles iam e faziam o trabalho deles. Cabia à Polícia Civil, a partir da presunção da verdade, receber a informação. Se o policial for pego na mentira, ele é expulso da corporação”, disse.
Edição: Fábio Massalli