Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Cerca de 3 mil formandos de medicina fizeram na manhã de hoje (11) o exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Com a edição deste ano, o Cremesp passou a exigir a participação do aluno na prova para concessão do registro profissional. O conselho alega que o exame avalia a qualidade da formação médica no estado e suscita na sociedade a discussão sobre o conhecimento dos médicos.
Os estudantes, entretanto, criticaram o modelo da avaliação aplicada. Para Guilherme Lippi, do último ano do curso de medicina da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, ministrado em Sorocaba (SP), o teste foi deficiente na cobrança de conhecimentos práticos. “A prova não tinha muitos casos clínicos. O caso clínico engloba melhor a avaliação do estudante, como ocorre hoje nas provas de residência.”
Ele acredita ainda que há muitos problemas no ensino da medicina que devem ser resolvidos antes da discussão sobre avaliação do estudante. Ele cita o grande número de escolas abertas nos últimos anos e o aumento do número de vagas, que podem significar precarização dos cursos.
“Tem muito mais coisas para serem discutidas antes. Do jeito que está, eu acho que tem que ter uma avaliação, mas não mal feita do jeito que foi. Tem de ser uma avaliação mais bem estruturada, talvez com várias universidades contribuindo com questões. Do jeito que foi não avaliou da forma correta”, ressaltou, após fazer o exame.
O exame do Cremesp é anual e está em sua oitava edição. Ele consiste em 120 questões teóricas de múltipla escolha. Do total de 2.924 formandos inscritos (2.530 das 28 escolas paulistas e 394 oriundos de cursos de outros estados), 2,46% não compareceram, o que corresponde a 72 ausentes.
“Eu acredito que a forma mais adequada seria fazer avaliações seriadas ao longo da faculdade. Uma avaliação, na atual situação da educação médica do país, é necessária sim, mas não da forma como é feita”, destacou o estudante do último ano do curso de medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Gabriel Mostaro Fonseca, que fez a prova em São Paulo na expectativa de fazer a etapa de residência médica no estado.
“Concordo com a obrigatoriedade sim, até para a sociedade ter ideia de quais profissionais realmente estão habilitados. Por outro lado, não haverá melhoria nesse exame se não houver esse movimento de questionamento da forma como ele está sendo aplicado”, disse Fonseca.
A exigência do teste para concessão de registro profissional aliada ao modelo da prova foram questões muito criticadas e levaram alguns estudantes a “boicotarem” a prova. Esses alunos compareceram aos locais de prova e marcaram a letra “b” em todas as questões.
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente do Cremesp, Renato Azevedo, disse que o formato da avaliação poderá ser rediscutido, mas defendeu a obrigatoriedade da prova e de uma nota mínima de 60% para que o formando receba o registro da profissão. Na edição deste ano, a nota mínima não será exigida.
“Nós defendemos que haja uma avaliação ao final do curso de medicina externa à faculdade. A forma como ela deve ser feita pode até ser discutida, pode ser uma prova teórica, uma prova prática. Mas a gente defende que essa prova terminal seja feita. Até porque já é feita em vários países do mundo”, disse.
Segundo Azevedo, a intenção do Cremesp é avaliar a qualidade da formação médica no estado. "Dizem que a prova não avalia o conhecimento médico. Avalia sim. Isso já é uma experiência internacional, se faz esse tipo de prova em vários países. A gente tem absoluta certeza de que quem não consegue acertar 60% das questões dessa prova, não tem condições de atender as pessoas com segurança”, destacou.
O presidente do Cremesp disse, no entanto, que a entidade não tem o poder de negar o registro aos formandos que não consigam a aprovação de 60% do teste. Para tanto, seria necessária uma nova lei. “No momento nós não temos uma lei, como tem a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], que nos permita não entregar o registro para quem não passar na prova. Defendemos, sim, a aprovação dessa lei, mas ela tem de ser discutida pela sociedade brasileira, por meio do Congresso Nacional”, disse.
Edição: Lílian Beraldo