Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Sete pessoas foram assassinadas e cinco ficaram feridas, entre a noite de ontem (8) e a madrugada desta terça-feira, nos municípios de Taboão da Serra e Embu das Artes, na Grande São Paulo. As mortes ocorreram em um intervalo de menos de cinco horas, logo após a morte do soldado da Polícia Militar Hélio Miguel Gomes de Barros, de 36 anos, cuja morte é investigada como crime de execução.
De acordo com a Polícia Civil, o policial militar estava em dia de folga e foi baleado em um posto de combustíveis localizado em Taboão da Serra, por volta das 21h50min de ontem. A Polícia Civil e a Corregedoria da Polícia Militar investigam se há relação entre a morte do policial e os assassinatos ocorridos em sequência. As imagens das câmeras de segurança do posto de combustíveis estão sendo utilizadas para tentar identificar os suspeitos.
O delegado titular do 1º Distrito Policial (DP) de Taboão da Serra, Gilson Campinas, não descarta a possibilidade de que as mortes tenham sido uma retaliação ao assassinato do policial. “Tudo depende da investigação. Nada é descartado, mas a ação foi muito rápida após a morte do policial militar. Há indícios de que pode ter ocorrido uma ação nesse sentido”, admitiu.
Para o aposentado João Batista Siqueira, tio da viúva do policial morto, trata-se de um crime de execução. “Ele falava pra mim que sempre tinha medo de chegar em casa, que vivia assustado. Acho que pode ter sido vingança”, declarou. O aposentado disse ainda que o policial trabalhava informalmente, há cerca de seis meses, como segurança no posto de combustíveis.
Um funcionário de uma loja próxima ao posto de combustíveis, que não quis se identificar, disse à Agência Brasil que quatro homens em duas motos deram vários tiros contra o policial. “Ouvi pelos menos dez tiros”, relatou. A vendedora Fabiana Oliveira, que trabalha em loja de conveniência no próprio posto de gasolina, também ouviu os disparos, mas não conseguiu ver os assassinos. “Fui uma das [pessoas] que tentaram socorrer o PM [policial militar], mas ele já estava morto”, disse.
Apenas 40 minutos depois da morte do policial, por volta das 22h30, dois rapazes em uma moto, um deles adolescente, foram mortos após suposta perseguição policial no município de Embu das Artes. “Com os dois homens, foram encontrados os pertences de uma moça que havia sido assaltada”, relatou o delegado do 1º DP. As mortes ocorreram na continuação da Estrada Kizaemon Takeuti, no limite entre os municípios de Taboão da Serra e Embu.
Parentes do adolescente André Oliveira, de 16 anos, um dos mortos na ação, questionam a versão de que ele teria participado de assalto. “Ele tinha acabado de sair de casa. Não tinha tempo para isso. Ele nunca passou pela Fundação Casa [entidade do governo do estado que abriga menores infratores]. Só estudava. Se meu irmão tivesse resistido, como tão dizendo, ele não teria levado tiros à queima-roupa”, disse Rogério Oliveira, de 26 anos, irmão da vítima.
De acordo com a Polícia Civil, o ataque seguinte ocorreu na Rua Sati Nakamura, em Taboão da Serra, à 0h10, resultando em um ferido. Marcelo dos Anjos, de idade não divulgada, levou um tiro na perna. Às 01h31, a ocorrência foi na Rua Nicolau Gentile, no mesmo município, onde o irmão de um policial militar, Fábio Julião dos Santos, foi morto e mais três pessoas, dois homens e uma mulher, foram baleados, entre eles José Francisco Gomes, que morreu no hospital.
Luciana Gomes Miguel, tia de José Francisco, relatou que o sobrinho estava em uma rua próxima de casa, quando homens encapuzados desceram atirando de um carro preto. “Eu moro na rua de trás e fiquei sabendo logo depois. Tinha gente na rua e as pessoas que estavam lá contaram o que aconteceu”, declarou.
A tia do morto disse ainda que conversou com uma das pessoas atingidas por disparos em outra rua de Taboão da Serra e que a mesma situação foi relatada. “Conversei enquanto estava no hospital e ela disse que foi atingida por homens em um carro preto também”, relatou.
As demais ocorrências também foram em Taboão da Serra. Esses homicídios foram registrados na Rua Tereza Montez Sanches, às 02h20 - onde Fernando Pereira de Melo foi morto e mais duas pessoas ficaram feridas - e na Rua João Antônio da Fonseca, onde morreram Alexandre Pereira e Ricardo Evangelista.
De acordo com o Comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo, somente este ano, 79 policiais militares foram mortos, sendo 65 da ativa, dos quais 61 estavam de folga, e 14 aposentados. O número já é bem superior ao registrado no ano passado, quando 48 policiais militares foram mortos, sendo 37 da ativa.
Edição: Davi Oliveira