Isabela Vieira*
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro- Menos de uma semana após assumirem o policiamento na comunidade Nova Brasília, no complexo de favelas do Alemão, integrantes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da localidade são acusados de agir de maneira violenta contra moradores na madrugada de hoje (14). A Polícia Militar (PM) substitui o Exército, que atuou na comunidade durante um ano e meio.
Na madrugada de hoje (14), policiais militares foram chamados para atender a uma ocorrência perto da quadra de esportes da Nova Brasília. Testemunhas contam que cerca de 20 agentes implicaram com um grupo que se divertia no Bar Flamengo, na Praça do Trevo. Diante da situação, moradores começaram a filmar a abordagem dos PMs por telefones celulares, quando foram repreendidos pela polícia.
"Estávamos no bar, em um momento de lazer no final de semana, quando os policiais chegaram jogando spray de pimenta na gente. Quando falamos que íamos filmar aquilo e pegamos o celular, eles falaram que nos levariam para a delegacia por desacato [à autoridade]", contou a jovem Eliane da Silva Anacleto, que presenciou a confusão, mas foi impedida de registrá-la.
Outra testemunha, que preferiu não se identificar, disse que os policiais queriam acabar com as festas no entorno da quadra e mandaram "fechar tudo". "Eles chegaram na truculência, jogando spray de pimenta em todo mundo, sem nem ver o que estava acontecendo". Segundo o jovem, ações policiais para reprimir os moradores em momentos de lazer durante os finais de semana são comuns.
"O final de semana é o tempo que o morador tem para se divertir. Tem gente aqui que trabalha de segunda a sexta, de segunda a sábado, e quer dar uma relaxada na folga. A polícia não pode já chegar logo esculachando todo mundo", reclamou mais um jovem que presenciou o tumulto, mas que também preferiu relatar o caso sob anonimato, com medo de retaliações dos policiais.
Procurado pela reportagem da Agência Brasil, o dono do Bar Flamengo, identificado como Zé, negou a confusão e não quis dar entrevistas. Ao comando da PM, no entanto, disse que as testemunhas estavam bêbadas sem condições de narrar os fatos, segundo informou a assessoria de comunicação da UPP.
A assessoria da UPP também nega o uso de qualquer tipo de arma durante a ocorrência, o que precisaria ser registrado na unidade. Na avaliação da PM, durante a fase de implantação da UPP, cuja sede na comunidade foi inaugurada na última segunda-feira (9), é natural resistência por parte dos moradores.
A UPP em Nova Brasília tem um efetivo de 340 policiais, parte da força policial que substituiu o Exército nos complexos da Penha e do Alemão.
*Colaborou Vladimir Platonow
Edição: Carolina Pimentel e Juliana Andrade