Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - No momento em que o mundo sofre os efeitos de uma das piores secas já observadas, que atinge em grandes proporções o Nordeste do Brasil, o país se prepara para sediar a 2ª Conferência Científica da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Secas (UNCCD). O encontro, que faz parte do calendário oficial das Nações Unidas, ocorre de 4 a 7 de fevereiro de 2013, em Fortaleza, e deve reunir acadêmicos, cientistas, políticos, organizações sociais e de setores privados de várias nações.
Durante os quatro dias, eles vão discutir a inclusão ou a consolidação das questões da desertificação, da degradação da terra e da seca na agenda ambiental de seus países. Estão previstas atividades como workshops, apresentações de resumos, oficinas, vídeos, exposições de inovação, excursões e mesas-redondas.
O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, enfatizou que a realização da conferência demonstra que o combate à desertificação está sendo compreendido, no cenário internacional, como fundamental para a construção do desenvolvimento sustentável. Ele lembrou que o tema fez parte da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio92), mas não conquistou, desde então, a mesma visibilidade, como os debates sobre mudanças climáticas e biodiversidade.
“Essa questão não havia ainda atingido o mesmo grau de protagonismo global, se comparada a temas como mudança climáticas e biodiversidade. Agora, começa-se a perceber que não é possível falar de agenda de sustentabilidade sem falar do desenvolvimento das regiões semiáridas, afetadas pelo processo de desertificação. As agendas finalmente convergiram”, afirmou, ao enfatizar que a convenção da ONU sobre o tema foi assinada por 194 países, entre eles, o Brasil. O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação é responsável, junto com os ministérios do Meio Ambiente e da Integração Nacional, pela organização do conferência da ONU no Brasil.
O coordenador da área de Agricultura, Recursos Naturais, Gestão Ambiental e Mudanças do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica) no Brasil, Gertjan Beekman, destacou que a desertificação é uma questão mundial e que a troca de experiências entre os países é fundamental para difundir as tecnologias de sucesso que vêm sendo implementadas. Segundo ele, 40% da superfície da Terra estão em áreas suscetíveis à desertificação e 15% da população mundial vivem nessas regiões.
De acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, o processo é caracterizado pela "degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles, as variações climáticas e as atividades humanas".
"Como se trata de um problema mundial, é preciso consolidar experiências bem-sucedidas e observar o que outros países estão fazendo. Além disso, o evento vai ser fundamental para definir metas e objetivos claros para os próximos anos", destacou Beekman, ao acrescentar que no Brasil o risco de desertificação está presente em uma área que se estende por 1,3 milhão de quilômetros quadrados, onde vivem 30 milhões de habitantes.
O coordenador do Iica no Brasil, que também é doutor em recursos naturais, ressaltou que a situação traz impactos negativos diretos na situação de vida das populações dessas regiões, principalmente as mais vulneráveis e isoladas, além de comprometer o desenvolvimento econômico e social das áreas afetadas.
A 1ª Conferência Científica da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Secas (UNCCD) ocorreu em 2009, na Argentina.
Edição: Talita Cavalcante