Guilherme Jeronymo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O crescimento da demanda de combustíveis – superior a 40% para a gasolina nos últimos três anos – preocupa o governo federal, que trabalha com cenários não muito otimistas, como a importação de quase R$ 60 bilhões do combustível em dez anos. A previsão foi feita pelo secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério das Minas e Energia, Marco Antônio Almeida, em uma simulação pessimista, durante evento do setor de etanol, ocorrido hoje (29), na capital fluminense.
No cenário apontado por Almeida, considerando que não haja ampliação da capacidade de produção de gasolina e o aumento da demanda de todos os combustíveis no país tenha uma média de crescimento de 4,5% ao ano, serão necessários cerca de 1 bilhão de litros de gasolina equivalente por mês, em 2020. Uma das alternativas, a importação de combustível, consumiria R$ 58 bilhões entre 2015 e 2020.
Outra possibilidade, a de adaptação das plantas industriais que processam o derivado de petróleo nafta para a produção de gasolina, demandaria cerca de R$ 56 bilhões, entre os custos de investimento na adaptação e de importação de nafta. Outra alternativa reside na construção de mais 67 usinas de médio porte de etanol, a um custo de R$ 67 bilhões.
“O que a gente tem de fazer nesse cenário? Trabalhar para que ele não aconteça. A gente tem de aumentar a produção de álcool e gasolina no país. É tomar a decisão do que fazer e como fazer”, observou Almeida, que ainda chamou a atenção para a necessidade do ministério, da Petrobras e dos produtores iniciarem os diálogos para definir os investimentos o mais breve possível.
O secretário também considerou essenciais os investimentos da indústria automobilística, na direção de motores mais eficientes, principalmente, no rendimento com o etanol.
Durante o evento, foram oficializados benefícios fiscais à indústria do etanol no estado e apontadas dificuldades do setor, que enfrenta queda de consumo desde 2009, quando seus preços passaram a se apresentar menos competitivos do que os da gasolina.
Segundo o empresário Luis Roberto Pogetti, da Copersucar, que atende a 48 usinas responsáveis por cerca de um terço da produção nacional, o etanol se apresenta como uma “boa causa”.
O investimento necessário para suprir a demanda nacional de etanol é R$ 130 bilhões até 2020, o que seria a perspectiva mais econômica de investimentos, apesar da baixa produtividade do produto, que teve ganho menor de produtividade nos últimos anos que produtos concorrentes, como o milho e a beterraba. As lavouras nacionais têm uma capacidade ociosa de 150 milhões de toneladas de cana de açúcar.
Segundo Pogetti, hoje, a produtividade da cana é 7 mil litros por hectare, com potencial de chegar a 23 mil litros por hectare até 2025. Para isso, os produtores têm de vencer uma série de dificuldades. Uma delas é a idade média das lavouras, que é alta, fator que influencia na produtividade, atualmente abaixo do potencial. “[A competitividade hoje] De fato, é ruim. Perdemos produtividade em razão da crise financeira, que inibiu o crescimento, de 2008 para cá”, disse. Ele lembrou ainda que a produtividade tem sido baixa em razão do clima. Na última safra, a produção teve uma média de 5,6 mil litros por hectare.
Outro fator que preocupa é a preferência da população pela gasolina. O secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis aponta a mudança como a manifestação de que a sociedade, hoje, não quer pagar o preço por um combustível renovável mais caro. “Na hora em que o etanol perde a competitividade, atinge os 70%, a sociedade vai comprar gasolina. Será que a sociedade refletiu que o etanol tem algumas propriedades positivas que não estão sendo externadas? Eu não tenho a convicção disso e isso precisa ser debatido”, disse Almeida.
Edição: Lana Cristina