Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Cerca de 40 cirurgiões plásticos voluntários retornam ao Amapá neste fim de semana para realizar a segunda etapa de procedimentos em vítimas de escalpelamento. Em maio deste ano, 32 pacientes receberam próteses expansoras do couro cabeludo, que agora serão retiradas pelos médicos.
O escalpelamento é uma lesão considerada grave porque as vítimas têm o couro cabeludo e outras partes do rosto arrancados total ou parcialmente. Os acidentes ocorrem em embarcações artesanais que têm o motor descoberto e localizado no centro para ajudar no equilíbrio. Quando mulheres, homens ou crianças de cabelos longos se abaixam para tirar água do fundo do barco, os fios se enroscam no eixo e ocorrem as mutilações.
Em entrevista à Agência Brasil, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luciano Chaves, explicou que a prótese expansora colocada nos 32 pacientes consiste em um balão de silicone conectado a uma válvula que, semanalmente, injeta soro fisiológico. Agora, os cirurgiões farão uso do couro cabeludo destendido para cobrir áreas onde não há cabelo (cirurgia reparadora).
O mutirão pretende atender ainda 30 novos pacientes – a maioria, escalpelada há 20, 30 ou mesmo 40 anos. Segundo Chaves, uma senhora de 70 anos precisou esperar 58 anos para passar pela cirurgia plástica. “Como eles permanecem muitos anos escalpelados, existe uma exposição solar muito frequente dessa região sem o couro cabeludo e esses pacientes estão desenvolvendo tumores nessa área”.
Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica indicam que pelo menos 300 pessoas tenham sofrido algum tipo de escalpelamento na região entre Belém e o estado do Amapá. Desde o início do ano, nove casos já foram contabilizados, sendo três nos últimos 45 dias. As vítimas incluem uma criança de apenas 9 anos.
“As cirurgias são um trabalho humanitário, voluntário, mas estamos preocupados. Operamos pacientes, mas acontecem novos casos, tem que haver uma política mais efetiva", disse Chaves. Para ele, existe uma lei federal sobre ações preventivas do escalpelamento e um trabalho ostensivo da Defensoria Pública Federal e do governo do Amapá, mas está provado que esses mecanismos não estão alcançando o nível de eficiência necessário.
Chaves lembrou que o número de embarcações sem o protetor de eixo ainda é grande no Amapá, já que muitos condutores recebem o produto mas não o utilizam, porque ele diminui a área útil interna do barco.
“Precisamos de sensibilidade política. A situação dos pacientes é muito grave. Uma das soluções é a modernização das embarcações da região amazônica, um meio de transporte que eles necessitam. São embarcações muito artesanais. Tem que haver um projeto de governo no sentido de modernizar essas embarcações”, concluiu.
Edição: Graça Adjuto