Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A exposição Zerbini: o Homem, o Cirurgião e o Cientista, aberta esta semana no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas de São Paulo, mostra a evolução da cirurgia cardíaca no Brasil. A exposição marca os 100 anos de nascimento do médico responsável pelo primeiro transplante de coração da América Latina.
O visitante vai ver desde os primeiros equipamentos usados nas cirurgias cardíacas aos mais modernos, além de objetos pessoais, fotografias e documentos de um dos mais importantes nomes da cardiologia brasileira. Na exposição, em cartaz até o dia 17 de agosto, também será exibido o documentário O Primeiro Transplante de Coração, de 1968, do diretor B.J. Duarte.
A mostra foi organizada pelo médico Noedir Stolf, que trabalhou como assistente do médico Euryclides de Jesus Zerbini. Para ele, o legado do dr. Zerbini foi o estabelecimento de uma filosofia de produção de equipamentos e dispositivos nacionais para cirurgias cardíacas, que se transformou em indústria. “Hoje, o país não só produz para o mercado nacional, como exporta”.
Além disso, Zerbini foi também responsável pelo início do funcionamento do InCor como centro de excelência em pesquisa, ensino e tratamento de doenças do coração e pulmão. “O InCor é, sem dúvida, uma instituição de vanguarda na América Latina”.
Zerbini nasceu em 10 de maio de 1912 e morreu em outubro de 1993. Ele formou mais de 400 discípulos em todo o Brasil e na América Latina.
Os destaques da exposição são a primeira máquina de circulação extracorpórea, que faz o papel do pulmão quando o coração precisa parar de bater durante as cirurgias, e os stents farmacológicos, um tipo de mola que, introduzida na artéria, expande e desobstruir o vaso. Os dois equipamentos são fabricados no instituto.
“No momento, o InCor não tem mais a missão de produzir equipamentos em série, mas produzimos materiais que são usados rotineiramente. Temos vários projetos em fase de teste clínico, como um ventrículo artificial que já foi utilizado em doentes adultos. Temos também um ventrículo pediátrico, que é muito raro, na fase final de teste”, explicou Stolf.
O presidente do Conselho Diretor do InCor, o médico Fábio Jatene, disse que a cirurgia cardíaca foi uma das especialidades que mais evoluiu, apesar de ser relativamente recente quando comparada com outras especialidades cirúrgicas. O desenvolvimento mais forte se deu a partir do fim da década de 1960. “Hoje conseguimos tratar com operações todas as principais patologias [do coração], como doenças congênitas que precisam de mais de uma cirurgia para o tratamento. Cuidamos de problemas das válvulas, artérias coronárias e de insuficiências cardíacas, entre outras”.
Jatene destacou que o InCor é considerado um hospital de vanguarda, com capacidade para fazer cirurgias usando as mais modernas técnicas disponíveis no mundo. “Não ficamos a dever nada em relação aos centros mais evoluídos e o nosso desafio é continuar mantendo essa modernização”. O cirurgião também citou como desafio a possibilidade de fazer as mesmas cirurgias de forma menos invasiva, menos agressiva para o paciente, com incisões (cortes) menores e uso de equipamentos mais delicados e flexiveis. “Ou seja, tratar os pacientes bem, com ótimos resultados e com uma agressão cada vez menor”. Jatene ressaltou que reunir os métodos clássicos com as técnicas de menor invasão é uma tendência mundial.
Durante a cerimônia de comemoração dos 100 anos de Euryclides Zerbini, o governador Geraldo Alckmin anunciou a construção de um novo prédio para ampliar e modernizar o pronto-socorro do InCor, além da reforma de dois andares do prédio atual e a compra de novos equipamentos. Ao todo, serão investidos R$ 43 milhões na obra.
“Equipamentos que estão em outras áreas do hospital serão instalados no pronto-socorro para que as pessoas não precisem se deslocar em situações de emergência. Isso é indispensável”, disse Jatene. Ele também informou que um setor de experimentação, fechado há dez anos, será reativado.
O Brasil é o segundo país do mundo em número de cirurgias cardiovasculares, com mais de 100 mil operações por ano. No InCor, são feitas, aproximadamente, 5 mil cirurgias por ano. “Esse número é suficiente, o problema é que o instituto tem uma capacidade instalada, nós nunca conseguimos crescer extraordinariamente. O que precisamos é fazer [os atendimentos] com mais eficiência, sempre empregando as melhores técnicas”.
Os transplantes cardíacos também são destaque no InCor, que faz cerca de 50 cirurgias desse tipo por ano. Os transplantes pulmonares chegam a 40. O hospital sabe que é preciso ampliar este número, por causa da grande demanda.
Jatene explicou que a doença que mais afeta os pacientes é a insuficiência cardíaca, quando o coração não consegue bombear sangue para manter o sistema circulatório em pleno funcionamento. Nesse caso, uma das alternativas é, justamente, o transplante do órgão. “Recentemente, propusemos uma reestruturação nos transplantes no Incor e isso está em discussão. Queremos que as áreas cardiológicas e pneumológicas trabalhem em conjunto para otimizar recursos e material humano”.
Edição: Vinicius Doria