Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A recusa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em atender ao convite feito pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira consumiu boa parte das discussões da reunião de hoje (2), na comissão. Deputados e senadores da CPMI se dividiram e governistas defenderam a convocação de Gurgel, enquanto os da oposição alegaram que ela não poderia ser feita pela comissão, do ponto de vista legal, e que o depoimento dele enfraqueceria seu trabalho no Ministério Público Federal.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), líder dos tucanos no Senado, foi contra a convocação de Gurgel. “O procurador-geral da República merece o nosso respeito, adquiriu respeitabilidade. É um homem público correto e tem da nossa parte o apoio intransigente para que possa cumprir o seu dever ao final dos trabalhos dessa comissão. Há que se distinguir procuradores do procurador-geral da República. É uma outra situação, é outro cenário. Ele não pode ser convocado", disse.
Além disso, para Álvaro Dias, a convocação do procurador-geral o enfraqueceria em um momento importante como o julgamento do processo que analisou o chamado mensalão, esquema envolvendo políticos do PT. Esse processo deve ser julgado este ano pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "Não poderíamos enfraquecer o procurador-geral em um momento em que será julgado o processo do mensalão."
Já o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) defendeu a convocação e disse que o procurador-geral tem explicações a dar a população devido à demora em oferecer denúncia contra o senador Demóstenes Torres e o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, acusado de envolvimento com jogos ilegais e de formar uma rede de influência envolvendo políticos. "O procurador pode ser convocado sim. Além disso, ele tem uma explicação a dar à sociedade brasileira. Ele tem que explicar porque ficou sentado nessas acusações por quase três anos", observou Vaccarezza.
Já o deputado Maurício Quintella Lessa (PR -AL) acredita que a decisão de convocação de Gurgel deve ser tomada após a primeira análise dos documentos e depois que a comissão ouvir os primeiros depoimentos. "Se ficar claro que houve prevaricação por parte do procurador-geral, ele precisar dar satisfação a essa CPMI e à sociedade", disse.
Hoje, Gurgel rejeitou convite feito pela CPMI do Cachoeira. Em nota divulgada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), ele alegou que um depoimento seu à comissão “poderá, futuramente, torná-lo impedido para atuar nos inquéritos em curso e ações penais subsequentes”. Ele também garantiu que o Ministério Público Federal “não se furtará a investigar quem quer que seja”.
Gurgel voltou a explicar os motivos que retardaram o pedido de abertura de inquérito no STF, já que recebeu as primeiras informações sobre o envolvimento de políticos com Cachoeira ainda em 2009. Segundo o procurador, os dados iniciais eram insuficientes e os indícios mais robustos chegaram apenas com a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. O material completo dessas apurações foi encaminhado à PGR pela Justiça Federal em Goiás no início de março.
Edição: Lana Cristina