Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – As chuvas de janeiro deste ano deixaram uma lição e despertaram a necessidade de buscar novas tecnologias agrícolas na região serrana do Rio de Janeiro. Os municípios afetados pela tragédia, que respondem por quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário do estado, contabilizaram prejuízos em 3 mil hectares de lavoura e a destruição total de pelo menos 1,5 mil hectares.
Para contornar o saldo negativo, foram criadas linhas emergenciais de diferentes fontes e características. Uma das contribuições mais importantes para o produtor da região partiu do Banco Mundial, que disponibilizou US$ 20 milhões. Segundo balanço do governo do estado, desse total, já foram utilizados R$ 9 milhões, atendendo 1,1 mil propriedades de 124 comunidades. O dinheiro foi usado em ações como a recuperação e construção de estufas, compra de equipamentos de irrigação, preparo de solo e a compra de adubo, sementes e mudas.
Também foi criada uma linha de crédito específica no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Em 2011, foram fechados 2,1 mil contratos no valor de R$ 2 mil por produtor, somando R$ 4,2 milhões.
Com o aporte financeiro, a região serrana conseguiu resgatar um serviço que teve grande impulso no Brasil, nas décadas de 70 e 80, o de assistência técnica e extensão rural. A tragédia fez com que esses dois serviços voltassem a ser prioritários para a agricultura local, tanto para a recuperação dos prejuízos, quanto para a orientação preventiva na produção agrícola.
“Estamos aproveitando o desastre para aumentar o papel tecnológico da região. Estamos avançando, por exemplo, no número de estufas e novas técnicas de plantio”, destacou o secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo.
O supervisor local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Nova Friburgo, Afonso Henrique de Albuquerque Junior, orgulha-se de ser conhecido como “anjo da agricultura” entre os produtores. “Na calamidade, com os programas de crédito, pudemos ajudar muitas pessoas a recuperar sua capacidade produtiva. Isso fortaleceu demais o trabalho da Emater”, disse.
Afonso Henrique conta que as equipes de assistência e extensão rural têm ajudado, por exemplo, a incluir os produtores no Cadastro Nacional de Recursos Hídricos. A inclusão é exigida para que o produtor tenha a outorga de água para o uso de sistemas de irrigação. Além do apoio para a inscrição no cadastro, os técnicos ajudam os produtores a identificar gastos excessivos durante o cultivo e a buscar alternativas de uso racional da água.
“Os sistemas tradicionais gastam muita água e energia. Em São Pedro da Serra [localidade de Friburgo], hoje, temos olericultura com irrigação por gotejamento, com economia de 80% de energia e 90% de água.” A mudança refletiu também na forma de produção . No caso da produção de morango, por exemplo, o cultivo é de forma protegida, em estufas. Outra mudança foi a redução do número de aplicações de agrotóxicos, que, antes, girava em torno de 20 a 25. Hoje, são feitas apenas três aplicações por produção.
O supervisor da Emater ainda relaciona outros avanços de tecnologias nem sempre tão inovadoras na história, mas eficientes na prática. No caso da olericultura, foi adotado o plantio direto, ou seja, o produtor não faz mais aração de solo antes de plantar. O método garante uma terra adubada pelo cultivo anterior e uma preservação maior do solo, que é mexido menos vezes.
Afonso Henrique avalia ainda que o desastre advindo das chuvas de janeiro resultou na necessidade de se introduzir tecnologias antes não usadas, fazendo com o que se produza mais em uma área menor.
O agricultor familiar Leonardo Costa Monfort, de São Pedro da Serra, conta que sua família já usava a técnica do gotejamento. Ele acredita que a assistência técnica veio em boa hora, embora, segundo ele, a iniciativa para o acesso às informações técnicas tenham partido dele e da família. Para o agricultor, a localidade de São Pedro da Serra, onde ele produz pimentão, cenoura e tomate, é caracterizada pelo turismo rural e, por isso, é possível que as autoridades desconhecessem a importância da lavoura para a economia local, o que fez com que só agora o trabalho de extensão rural tomasse mais fôlego.
Edição: Lana Cristina