Thaís Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Representantes de movimentos sociais e moradores de comunidades que estão sendo removidas em função das obras para a Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 fizeram, no início da tarde de hoje (12), um protesto em frente à prefeitura do Rio de Janeiro. Durante o ato, o grupo deixou sobre a calçada do Centro Administrativo sacos com entulhos de casas que foram demolidas. Eles também entregaram um dossiê de 138 páginas apontando várias violações de direitos humanos nas remoções à assessoria do prefeito Eduardo Paes, que não estava no gabinete.
O documento, produzido pela Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, está sendo entregue a autoridades em todas as 12 cidades que sediarão os Jogos e ainda a representantes de órgãos de fiscalização, como o Ministério Público Federal e a Controladoria-Geral da União, e a entidades internacionais, como a Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
De acordo com Gustavo Mehl, representante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, o principal problema são as remoções compulsórias de moradores de áreas destinadas às obras de mobilidade urbana, como vias expressas, e à construção de empreendimentos imobiliários. A estimativa é que, nas 12 cidades-sede da Copa, pelo menos 150 mil pessoas tenham que deixar suas casas.
“Do jeito que estão sendo feitas as coisas, o legado desses eventos vai ser muito negativo. Até agora, o que vemos é lucro para algumas corporações e grandes empresas. O legado pra gente é esse: o entulho das demolições que foram feitas arbitrariamente”, disse.
Para Mehl, as remoções geram prejuízos “irreparáveis” às famílias envolvidas. “Há uma quebra da relação com o território e com a comunidade. Os impactos no modo de vida de uma família e as imposições culturais são muito difíceis de quantificar e irreparáveis”, completou.
Márcia Regina de Deus, moradora do Morro da Providência, na zona portuária do Rio, também participou do protesto e disse que a sua comunidade não é contra à revitalização da região dentro do Projeto Porto Maravilha. O problema, segundo ela, é descaso com os moradores que não estão sendo ouvidos sobre o processo. A Providência é uma das comunidades onde estão sendo realizadas remoções.
“Nós não somos contrários às obras, mas vivemos aqui há muito tempo e em nenhum momento fomos chamados para participar do processo. Não queremos deixar a comunidade e viver em outro lugar, mas ninguém nos ouviu antes de decidir o que seria feito aqui, e muitas famílias já tiveram que deixar suas casas”, disse.
Rossana Tavares, representante da organização não governamental Fase, que tem projetos na área de direitos humanos, ressaltou que a remoção de moradores do Morro da Providência compromete parte da história da cidade. Ela declarou que existem laudos de engenheiros e arquitetos ligados ao movimento que garantem não haver risco de desabamento ou deslizamento de encostas na região.
“Essa área guarda não só na arquitetura, mas nas suas pessoas, a história do Rio e a forma de ocupação legitimada durante o século 20 e este início de 21 pelos governos, de deixar a população resolver. É a memória viva de uma população originária de escravos que atua pela resistência do seu patrimônio histórico e cultural. Tirar essas pessoas dali é matar a história viva urbana da cidade do Rio”.
Edição: Aécio Amado