Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Com grandes atrações da música brasileira e internacional, o Rock in Rio 2011 foi um sucesso de público. Isso não serviu, entretanto, para ofuscar a falta de planejamento da cidade do Rio de Janeiro para receber grandes eventos, na opinião de especialista em infraestrutura urbana. Para eles, o Rock in Rio, que termina hoje (2), mostrou a necessidade de o município se preparar melhor para ser palco de megaeventos.
De acordo com o diretor do Clube de Engenharia e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Jaques Sherique, o projeto de circulação da cidade “precisava ser revisto para que não perturbe, como perturbou, toda a malha viária do entorno [do Rock in Rio]. A Lagoa [bairro da zona sul de acesso à Barra da Tijuca, onde foi realizado o evento] estava sempre engarrafada, assim como os acessos da Tijuca [zona norte da cidade]. Não teve planejamento para evitar isso”.
Sherique lamenta que representantes dos governos do estado e do município não tenham discutido, previamente, o assunto com especialistas. Para o engenheiro, que defende que os órgãos especializados em tráfego podem contribuir para corrigir as falhas identificadas durante o evento, o Rock in Rio tem que servir como lição para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
“O evento foi positivo do aspecto do aprendizado. Temos que melhorar a questão logística. Os ônibus foram insuficientes. Teve todo aquele caos [espera de mais de cinco horas e falta de vagas]. Os órgãos que podem colaborar não foram contatados. Não podemos deixar de aprender com os erros, porque não podemos errar na Copa do Mundo e Olimpíadas”, disse o engenheiro.
Para o professor de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernando MacDowell a falta de planejamento tem sido um problema recorrente no Rio de Janeiro e um sinal amarelo na preparação da cidade para os jogos mundiais de 2014 e 2016.
Para ele, a melhor forma de corrigir os erros é com acompanhamento presencial das autoridades. “Você faz o planejamento, mas não acompanha. Acho que é um dos grandes erros. Os engenheiros e as pessoas que lidam com esse processo deverem estar em campo, porque é a única maneira de se aprender e melhorar para a próxima oportunidade.”
MacDowell dirigiu o Departamento de Estradas de Rodagem no Rio de Janeiro (DER-RJ), a partir de 1987. Durante a gestão, o especialista em engenharia de transporte lembra que foi responsável pela organização do tráfego durante o último Grande Prêmio da Fórmula 1 no município do Rio, em 1989. “Fizemos todo um aparato de estacionamentos de automóveis. Ninguém podia ir para área, mas não tinha que andar quilômetros, porque as linhas de ônibus foram estudadas e estabelecidos intervalos curtos. Eu e vários engenheiros fizemos toda a movimentação da cidade nas ruas.”
Além dos congestionamentos, MacDowell criticou problemas como a espera de mais de cinco horas a que o público foi submetido para usar transporte exclusivo para o evento. Ele também condenou as cobranças de taxas inadequadas, a falta de água ede mobilidade dos moradores da Barra da Tijuca. “Toda vez que há um grande evento, todo mundo é pego de surpreso. Isso não pode continuar assim. O Rio de Janeiro é uma das maiores cidades do mundo e está sendo observada. As pessoas que moram na região tiveram problema para sair [de casa]. As vias estavam todas tomadas. Para o morador do bairro entrar em casa precisava de um papel.”
Edição: João Carlos Rodrigues