Da BBC Brasil
Brasília - Em meio a um deficit recorde no Orçamento e à crescente perda de apoio popular à presença militar no Afeganistão, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou na noite de hoje (22) um cronograma que prevê a retirada das tropas americanas no Afeganistão em um ritmo mais rápido do que o esperado por analistas.
A estratégia foi detalhada em um pronunciamento na Casa Branca, transmitido ao vivo pela TV, no qual Obama confirmou que a retirada começa no próximo mês e disse que, até o fim deste ano, 10 mil soldados americanos deverão deixar o Afeganistão.
Esse contingente faz parte dos 33 mil soldados extras enviados ao país por Obama no fim de 2009. Segundo o presidente, até setembro de 2012 esses soldados terão voltado para casa.
Os Estados Unidos têm atualmente cerca de 100 mil soldados no Afeganistão. Obama não deu detalhes, porém, sobre os planos para retirar os cerca de 68 mil restantes.
O presidente deseja transferir as ações de segurança para forças afegãs de maneira gradual até o fim de 2014.
Obama disse que, após o retorno dos 33 mil soldados iniciais, as tropas americanas continuarão a voltar para casa em um ritmo estável, à medida que as forças de segurança afegãs assumam a liderança.
“Nossa missão vai mudar de combate para apoio. Até 2014, esse processo de transição estará completo, e o povo afegão será responsável por sua própria segurança”, disse.
Obama ressaltou que está cumprindo a promessa feita quando anunciou o reforço das tropas no Afeganistão.
“Deixei claro que nosso comprometimento não seria por prazo indefinido e que nós começaríamos a retirar nossas forças neste mês de julho”, disse. “Nesta noite, eu posso dizer a vocês que nós estamos cumprindo essa promessa”, completou.
No entanto, há grandes divisões dentro do governo americano sobre a rapidez com a qual os militares devem deixar o Afeganistão.
Os planos anunciados esta noite envolvem uma retirada maior e mais rápida do que a recomendada por alguns comandantes, que defendem uma redução limitada das forças americanas no país asiático, como modo de evitar um possível retrocesso no combate ao Talibã.
O próprio secretário de Defesa, Robert Gates – que deverá deixar o cargo no fim do mês –, alertou recentemente que o progresso conquistado até agora pode estar ameaçado caso a retirada não ocorra de modo “organizado e coordenado”.
A opinião pública, porém, vem demonstrando crescente rejeição à presença no Afeganistão, sentimento que aumentou ainda mais após a morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden – morto no início de maio em uma operação militar americana no Paquistão.
A pressão é agravada pela lenta recuperação econômica dos Estados Unidos, que enfrentam deficit recorde de US$ 1,4 trilhão (cerca de R$ 2,2 trilhões) no Orçamento, o risco de ultrapassar o limite da dívida pública, que já atingiu o teto de US$ 14,3 trilhões (cerca de R$ 22,7 trilhões), e a necessidade de cortar gastos.
Iniciadas há quase dez anos, após os atentados de 11 de setembro de 2001, as operações no Afeganistão custam atualmente mais de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 3,1 bilhões) por semana aos cofres americanos, o que tem despertado cada vez mais críticas, tanto de republicanos como de democratas.
Na semana passada, um grupo de 27 senadores de ambos os partidos enviou uma carta a Obama pedindo uma grande retirada. “Os custos de prolongar a guerra superam em muito os benefícios”, dizia a carta.
Logo após o pronunciamento de Obama, a líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes (deputados federais), Nancy Pelosi, divulgou uma nota na qual afirma que muitos no Congresso e no país tinham esperança que a retirada das forças americanas ocorresse mais cedo do que o estabelecido pelo presidente. “E nós vamos continuar pressionando por um melhor resultado”, diz a nota.
“Concluir esta guerra vai nos permitir reduzir o deficit e concentrar total atenção nas prioridades do povo americano: criação de empregos e investimento no futuro de nossa nação por meio de uma economia forte e vibrante para nossos filhos.”