Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Este é o primeiro final de semana da exposição O Brasil na Arte Popular, que reúne 1,5 mil peças de artesanato de 70 artistas populares brasileiros, como o ceramista pernambucano Mestre Vitalino (1909-1963). Ele é o principal homenageado na exposição, que fica em Brasília até 26 de junho, no Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, próximo à Rodoviária do Plano Piloto. É a maior mostra de artesanato e arte popular já feita no Brasil.
“A diversidade da cultura brasileira é um dos nossos maiores bens”, avalia a curadora da exposição, Angela Mascelani, ao explicar que a mostra se organiza em torno dos elementos fundamentais para a produção de peças de cerâmica: o barro, a água e o fogo (dos fornos usados na preparação das peças).
Estão expostas peças sobre as festas populares (carnaval, maracatu, folia de reis, bumba-meu-boi, cavalhada); as religiões (imagens de santos católicos e de orixás do candomblé e da umbanda); os ciclos da vida; as brincadeiras de criança; as heranças étnicas do povo brasileiro; o cangaço nordestino; as paisagens como a do Rio São Francisco (lembrados nos barquinhos com carrancas); e até arte erótica.
Na entrada da exposição, um sinaleiro de vento, feito pelo artista Laurentino (Paraná) recebe o visitante e indica que a arte popular seguiu no Brasil vários caminhos.
O conjunto de obras compõe um painel do artesanato produzido no século passado e feito atualmente em 11 estados que formam a metade oriental do mapa brasileiro, desde Santa Catarina até o Maranhão – passando pelo Paraná, por São Paulo, pelo Rio de Janeiro, por Minas Gerais, pela Bahia, por Pernambuco, pelo Piauí, Ceará e por Goiás.
As peças em exposição são do acervo do Museu Casa do Pontal (localizado no Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro) e são parte da coleção de 8 mil peças de artesanato iniciada há mais de 50 anos pelo designer francês Jacques Van de Beuque (1922-2000). Ele veio morar no Brasil depois da 2ª Guerra Mundial, após ouvir um conselho do pintor Cândido Portinari, como conta Lucas Van de Beuque, neto do designer.
Segundo Lucas, o avô (que não era judeu) chegou a ser preso por dois anos à época da ocupação nazista na França (iniciada em 1940) e conseguiu fugir de um campo de concentração no dia 20 de abril de 1942, aniversário de Hitler, em um momento de relaxamento do controle.
Para a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que esta semana abriu a exposição, as peças recolhidas e preservadas por Jacques Van de Beuque e seus parentes são representativas da “mistura de informação e muita criatividade” existente no artesanato nacional, que considera uma genuína arte brasileira. Segundo ela, as peças expostas em Brasília “foram selecionadas a dedo”.
A abertura da exposição foi acompanhada por artistas e artesãs como as goianas Lumildes e Delma, que vieram de Pirenópolis (cidade a 150 quilômetros de Brasília) ver suas peças expostas.
“O artesanato popular tem muita importância. É gratificante ter uma obra sua aqui”, disse Delma, conhecida pelas máscaras que faz para as cavalhadas de Pirenópolis, encenadas todo ano.
Edição: Juliana Andrade