Da BBC Brasil
Brasília - Os corpos das vítimas do voo AF 447 da Air France que estiverem muito deteriorados não serão resgatados, informaram os juízes franceses responsáveis pelas investigações do acidente em uma carta enviada nesta hoje (10) aos parentes dos mortos no acidente, ocorrido em 2009.
"Para preservar a dignidade e o respeito das vítimas e dos que choram por elas, tomamos a decisão de não resgatar os restos mortais que sofreram grandes alterações, considerado o fato de que o içamento à superfície é obrigatoriamente um fator suplementar de degradação", diz a carta, assinada pelos juízes Sylvie Zimmermann e Yan Daurelle.
"Vocês devem saber que os restos mortais no fundo marinho estão inevitavelmente em um estado degradado após um choque particularmente violento, o tempo transcorrido e em razão do meio em que se encontram."
"Levando-se isso em conta, nós só resgataremos os corpos que pudermos entregar decentemente às famílias, e isso sob a condição de que eles possam ser identificados", afirmam os juízes.
Os corpos das vítimas do voo AF 447 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico após decolar do Rio de Janeiro com destino a Paris, estão submersos a 3,9 mil metros de profundidade há quase dois anos.
Os juízes acrescentam que os corpos que não puderem ser identificados por meio de testes de DNA, “delicados e complicados”, não serão resgatados.
“Na hipótese em que uma identificação se revele impossível, acreditamos que, em respeito aos desaparecidos e a vocês mesmos, eles devam seguir repousando em paz em sua última moradia”, diz a carta.
A iniciativa despertou críticas entre representantes dos parentes das vítimas. No Brasil, o presidente da Associação de Familiares de Vítimas do Voo 447 (AFVV 447), Nelson Faria Marinho, disse que a decisão dos juízes franceses foi “precipitada” e que ela não cabe apenas à França.
“São 32 nacionalidades envolvidas. Só porque a investigação é deles, não quer dizer que eles sejam os donos da verdade. Eles têm que dar satisfação aos parentes”, afirmou Marinho.
Maarten Van Sluys, diretor executivo da associação AFVV 447, disse à BBC Brasil ter ficado “surpreso e indignado” com as informações “sobre a divisão entre os corpos mais e os outros menos deteriorados”.
“Isso cria uma ansiedade adicional entre todos por não saberem em qual grupo seus entes queridos estão incluídos”, disse.
“Para as famílias, ter um local digno para sepultar seus entes sempre será melhor do que não ter nada. Isso condiz com nossas tradições”, afirmou Sluys, que acha procedente, no entanto, “que um corpo que supostamente não possa ser identificado permaneça onde repousa”.
“Quais os meios utilizados para esta seleção? Fotos, vídeos, posição na aeronave, estarem atrelados aos cintos ou não?”, indaga o diretor da AFVV 447.