Voluntários ajudam a resgatar moradores de áreas isoladas em Teresópolis

16/01/2011 - 11h02

Vladimir Platonow

Enviado Especial

 

Teresópolis (RJ) - Uma verdadeira corrente humana foi formada para resgatar vítimas que continuavam isoladas em áreas remotas em Teresópolis. Na localidade de Santa Rita, a cerca de 20 quilômetros do centro, a estrada continua interrompida por quedas de barreiras, abertura de fendas e árvores tombadas. Nem jipes e caminhões do Exército, com tração nas quatro rodas, conseguem passar. A ponte que liga a localidade à BR-116 perdeu a cabeceira, levada pelo rio, e permite a passagem apenas de pessoas a pé ou de moto.

 

A solução foi organizar grupos de moradores da cidade, que percorrem de 8 a 14 quilômetros até a localidade, levando água, comida, roupas e remédios para as pessoas que estavam há dias sem contato nenhum, pois não há luz nem telefone.

 

Só é possível o resgate aéreo. A prioridade é retirar da área crianças, mulheres e idosos. Os homens que estejam em boas condições de saúde têm que seguir a pé. Mesmo assim, o trabalho das aeronaves depende das condições meteorológicas, dificultadas pelo fechamento constante do espaço aéreo por causa de chuva ou nuvens. A região é montanhosa, o que coloca em risco as operações dos helicópteros.

 

A Força Nacional de Segurança enviou ontem (15) três equipes de bombeiros socorristas para Santa Rita. Pelo caminho, os militares iam conversando com a população e prestando atendimento a quem estivesse machucado.

 

O aposentado Oswaldo Mattos, 73 anos, estava com dores no joelho e foi examinado pelo sargento Valdenilson Sales, do Amazonas. O morador estava há dias isolado, sem luz, água e comida. “Passei cânfora [erva que ele colheu na beira da estrada], mas não está adiantando muito”, disse Oswaldo, enquanto era socorrido pelo soldado da Força Nacional.

 

A equipe é comandada pelo subtenente Antônio Henrique Pereira, de Roraima, que já havia trabalhado no Rio de Janeiro, em abril, na tragédia do Morro do Bumba, em Niterói. “O que está acontecendo aqui não chega nem perto do Bumba. Lá era concentrado em um ponto e agora a tragédia está em toda a parte, em uma área geográfica muito grande, o que dificulta as operações”, comparou Henrique.

 

O número de pessoas pela estrada é muito grande, tanto de moradores que perderam suas casas e seguem para a cidade em busca de ajuda, quanto de voluntários, que desde a quarta-feira deixaram suas atividades e trabalham sem parar. Uma das principais ajudas é dada pelos motoqueiros que costumavam fazer trilhas no local, os únicos que conseguem passar pelo lamaçal para localizar vítimas e levar comida.

 

“É gratificante poder ajudar e salvar vidas. Não tem como ficar em casa e dormir sossegado, sabendo que tanta gente está precisando de nós”, disse Alexandre Leal. Há dias, ele sobe e desce os morros com sua moto prestando solidariedade às vítimas.

 

Mesmo quem não tem moto decidiu formar grupos e enfrentar a pé a estrada até Santa Rita. “A gente se sensibilizou e juntou uma equipe para ajudar. Fomos aconselhar os moradores a saírem, pois está muito perigoso. A maioria das casas na beira do rio ficou totalmente destruída”, disse Carlos de Souza, que conseguiu localizar desabrigados e chamar os bombeiros para resgatá-los.

 

No dia da tragédia, o grupo de amigos foi um dos primeiros a chegar a Santa Rita. “Conseguimos resgatar 20 pessoas. Saímos da mata eram 11 horas da noite. Tinha pessoas precisando de remédios e criança sem comida. A gente conhece as trilhas desde menino, então viemos para cá ajudar”, disse outro voluntário, Rafael Macedo de Carvalho: “Tem gente lá dentro que não sabia a proporção do que havia acontecido, pensava que tinha sido só lá, que tinha caído apenas uma barreirinha”.

 

Edição: João Carlos Rodrigues