Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Nos 45 minutos de discurso, após ser empossada na Presidência da República, Dilma Rousseff não conteve a emoção e chorou ao lembrar dos “companheiros e companheiras” que “tombaram” na luta contra a ditadura militar, período que a história trata como “anos de chumbo”. A primeira presidenta do Brasil reservou o fim de seu pronunciamento, após elencar as prioridades de seu governo, para homenagear os brasileiros que atuaram na resistência contra o regime militar.
Por duas vezes, Dilma não conteve às lágrimas. Na primeira, quando reforçou a intenção nos quatro anos em que dirigirá o país de combater os privilégios e a corrupção na administração pública e ao fazer um apelo de união em torno de seu projeto aos partidos de oposição.
“Neste momento sou presidenta de todos os brasileiros”, disse já com a voz embargada quando foi obrigada a silenciar para conter as lágrimas. Diante da emoção, coube aos parlamentares da base aliada interromper o silêncio do discurso com aplausos e gritos de “Dilma, Dilma”.
Da segunda vez em que não conteve as lágrimas, a presidenta, já empossada, ressaltava as adversidades pela qual passou durante o período da ditadura. “Não tenho arrependimento, ressentimento ou rancor. Muitos de minha geração que tombaram no caminho não podem compartilhar da alegria desse momento”, disse Dilma dedicando o momento em que assume o governo do país às companheiras de luta contra o autoritarismo.
Ao fim do discurso, no qual ressaltou que uma mulher não traz em si apenas a característica da coragem mas, também, de carinho, a presidenta compartilhou sua posse com a filha, o neto e com sua mão. Encerrado seu pronunciamento, ela deixou o plenário da Câmara da mesma forma que entrou: aplaudida de pé por todos os parlamentares a autoridades e sob a entoação pelos governistas do jingle de campanha “olê, olê, olâ, Dilma, Dilma”.
A presidenta abriu seu pronunciamento no Congresso com uma homenagem especial às mulheres brasileiras. Neste sentido, ela destacou a “ousadia do voto popular”, que depois de levar um presidente operário á Presidência da República, dar a oportunidade a uma mulher de sucedê-lo. “Vim honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos”.
Ela reservou no seu pronunciamento uma homenagem especial ao vice-presidente do governo Lula, o empresário José Alencar, que luta contra o câncer. Segundo Dilma, o vice-presidente “é um exemplo de coragem” a ser perseguido por ela e seu vice, Michel Temer.
Dilma destacou que, nos seus quatro anos de mandato, travará “uma luta obstinada” pela erradicação da pobreza extrema e a garantia de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras. “Não vou descansar enquanto houver um brasileiro sem comida na mesa, famílias aos desalento das ruas e crianças pobres abandonadas à própria sorte”, disse a presidenta.
Ela ressaltou que essa tarefa não é de exclusividade do governo, mas requer um pacto entre toda a sociedade brasileira. Neste sentido, Dilma Rousseff disse que o combate à miséria passa pelo crescimento econômico do país aliado à ampliação dos programas sociais.
Dilma também falou sobre a necessidade de reformas para o aperfeiçoamento da sociedade brasileira como a política e a tributária. Quanto à reforma tributária, a presidenta destacou a necessidade de se acabar com entraves que impedem o desenvolvimento.
A presidenta também assumiu, perante o Congresso, o compromisso de evitar a todo custo o retorno da inflação e a manutenção da estabilidade da economia. “Não permitiremos que essa praga recaia sob o tecido econômico e nossas famílias”.
Outro momento em que Dilma foi obrigada a interromper seu discurso, aconteceu quando falou da atenção que dará a setores como a educação, saúde e segurança pública. Segundo ela, só com avanços na qualidade de ensino se poderá melhorar, de fato, a situação do país e prometeu a ampliação do Prouni para o ensino técnico.
Dilma Rousseff também ressaltou que acompanhará diretamente os investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS). “Vou acompanhar pessoalmente o processo de melhoria do SUS”, disse ao destacar a necessidade de a população ter acesso a um atendimento médico e hospitalar de melhor qualidade.
A ampliação da parceria entre União, estados e municípios foi lembrado pela presidenta como o caminho para a redução da violência. Ela recordou a recente operação contra o tráfico no Rio de Janeiro que uniu as polícias Militar, Civil, Federal e as Forças Armadas.
A preservação ambiental é outro objetivo a ser perseguido pelo seu governo, entretanto, sem se pautar por imposições de terceiros ou acordos internacionais que impeçam o crescimento do país, afirmou a presidenta. Para isso, ela lembrou a necessidade de se preservar as florestas brasileiras, em especial à Amazônia, e investir cada vez mais em matrizes energéticas limpas.
Na política internacional, Dilma Rousseff pretende pautar seu governo com uma atenção especial aos países emergentes e aos vizinhos da América do Sul. Ela também rebateu qualquer apoio a países que tenham por objetivo desenvolver a produção de energia nuclear para fins bélicos.
Edição: Aécio Amado