Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que visa a estimular a produção, aquisição e exportação de bens de capital e a inovação tecnológica poderá acabar em março próximo. A informação foi dada hoje (8) pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge.
“Dentro do que nós estamos vendo, de redução do déficit público e de medidas de contenção do consumo, eu acredito que isso não será renovado. Foram medidas que deram certo, mas a indústria está com sua capacidade tomada e é hora de reduzir um pouco”, disse o ministro, que deixará o governo junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Miguel Jorge informou que a segunda fase da Política de Desenvolvimento Produtivo (política industrial) está praticamente pronta, mas não deu detalhes sobre ela, afirmando que seu sucessor no ministério deverá conhecer antes a proposta para apresentá-la à presidenta eleita, Dilma Rousseff, por se tratar de medidas para os próximos anos.
“Infelizmente, o mundo mudou com a crise internacional, depois que nós implementamos a primeira PDP [Política de Desenvolvimento Produtivo], mas teria sido muito pior enfrentar a crise sem a política industrial. Muito do que estava sendo discutido foi aplicado”, disse o ministro. Segundo ele, cerca de 500 servidores de diversos escalões estão envolvidos na implantação, discussão e coordenação da política industrial.
Sobre a desindustrialização do país, provocada, entre outras coisas, pelo real valorizado, que estimula um grande volume de importações, Miguel Jorge disse que a discussão não é simples, pois alguns fatores devem ser considerados. “Ainda é cedo para considerar desindustrializações. É difícil, quando você tem investimentos de US$ 130 bilhões em investimentos nos últimos quatro anos, comparados aos US$ 60 bilhões dos quatro primeiros anos de governo", afirmou.
Para o ministro, o fato de alguns setores estarem sendo afetados, não significa que seja possível defender uma tese de desindustrialização. “Acredito que setores menos desenvolvidos tenham realmente problema. É possível que alguns até desapareçam. Isso não é novo no processo de abertura comercial.”
Miguel Jorge defendeu ainda que as desonerações oferecidas ao setor produtivo passem a exigir contrapartidas. Para ele, foi um erro não discutir com os setores contrapartidas, como emprego, inovação e preço, para as desonerações. Ele lembrou que, em alguns casos, o assunto não foi tratado nem mesmo com sindicatos e trabalhadores.
“Não se deve fazer a desoneração se não houver uma contrapartida. Manutenção do nível de emprego, discutir a questão do preço e várias coisas que podem ser feitas, como pesquisa e desenvolvimento, que são colocadas na mesa quando se está oferecendo algo a alguém”, explicou.
Após deixar o governo, o ministro deverá cumprir o período de quarentena [quatro meses] antes de retornar à iniciativa privada. Miguel Jorge informou ter assinado um documento, encaminhado pela Comissão de Ética do governo, comprometendo-se a não repassar nenhuma informação a que tenha tido acesso enquanto permaneceu no cargo de ministro.
Edição: Nádia Franco