Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África
Maputo (Moçambique) – Cerca de 300 curandeiros e médicos tradicionais saíram nesta terça-feira (31) em passeata pela Avenida Acordos de Lusaka, uma das mais movimentadas de Maputo, para marcar o Dia Africano da Medicina Tradicional. Vestidos a caráter - homens com peles de animais e mulheres com tecidos coloridos, chamados “capulanas” -, os manifestantes tocaram tambores e apitos e carregaram faixas que lembravam os 9 anos do reconhecimento profissional no país.
Em 2001 foi criada a Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (Ametramo), que hoje tem mais de 25 mil associados. A associação nasceu com o intuito de chancelar o trabalho dos curandeiros, além de criar padrões de atendimento e comportamento. Segundo estimativa do porta-voz da associação, Fernando Mathe, já são mais de 70 mil praticantes da medicina tradicional no país. “É muita gente mesmo”, garante.
Dados do Ministério da Saúde de Moçambique mostram que, em abril desde ano, o número de médicos profissionais não passava de 1,2 mil em todo país. Para vários moçambicanos, o médico tradicional é quem dá o primeiro atendimento, quando não o único. Uma realidade que se repete em outros países do Continente Africano.
“Contra fatos não há argumentos,” afirma a vice-ministra da Saúde, Nazila Abdula, que participou da passeata. “A saúde tentou sempre trabalhar separada da medicina tradicional. Mas sabemos que 75% da população usam os praticantes dela".
Por isso, o ministério criou no ano passado o Instituto de Medicina Tradicional de Moçambique. “Neste momento, estamos a catalogar quem são os médicos tradicionais e quais remédios eles usam para cada doença”, explica a vice-ministra, que é médica pediatra. “E temos tido bons resultados”.
Outra medida é instruir os curandeiros a identificar doenças graves e mandar seus pacientes ao hospital o quanto antes. “Curandeiro não trata de todas as doenças”, diz Mathe. “Só as do espírito. Feitiço é feitiço, doença é doença.” Outro desafio enfrentado pela associação é combater o uso de órgãos humanos em cerimônias tradicionais. “Isso é crime”.
Maus curandeiros são alvo das próprias associações, explica Fátima Mongore , do Fórum Nacional da Medicina Tradicional. “Aproveitadores há em todas as profissões”. Segundo ela, o trabalho feito na última década é que ajudou a dar credibilidade aos curandeiros e a ganhar o respeito da sociedade e do governo.
A passeata terminou na Praça dos Heróis, onde foram depositadas flores no monumento que lembra, entre outros heróis moçambicanos, o primeiro presidente do país, Samora Machel. Além da vice-ministra da Saúde, estava presente a governadora de Maputo, Lucília Hama.
Edição: Vinicius Doria