Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Moamba (Moçambique) - As equipes que trabalham na desativação de minas terrestres em Moçambique são formadas por sete pessoas, entre supervisor, desminadores e paramédicos, preparados em cursos que duram três semanas. Eles trabalham oito horas por dia, agachados no chão. Muitas são mulheres.“É perigoso sim”, diz Martinha Imaculada, desminadora há cerca de um ano. "Mas, seguindo as regras, torna-se seguro”. Ela nunca sofreu ou presenciou um acidente.
Dentro da área de desminagem é proibido fumar, correr ou atirar objetos no solo. Só se entra nela de colete blindado e máscaras plásticas apropriadas.
O processo começa com a captação de informações nas comunidades próximas, para delimitação do espaço a ser vasculhado. O terreno é então cercado por estacas vermelhas, que indicam que o local ainda não foi liberado. O próximo passo é cortar o mato. Ajoelhado no chão, o técnico, então, passa o “sapador” - instrumento que apita ao identificar peças de metal – seis vezes sobre exatamente 1 metro quadrado de terreno. Se nada é encontrado, segue-se para o metro quadrado seguinte. A região só é liberada depois de o supervisor e o chefe de operações também checarem o local.
O sapador consegue localizar explosivos a até 20 centímetros de profundidade. Caso haja a suspeita de que as minas estejam abaixo disso, escavadores blindados retiram a terra e espalham os montes no chão, para serem vasculhados manualmente mais uma vez. Caso sejam encontradas minas, elas são destruídas no mesmo local, detonadas por explosivos plásticos.
Durante a visita da reportagem da Agência Brasil ao campo em Moamba, duas minas foram localizadas e destruídas nas proximidades da torre de número 137, a poucos metros de uma estrada de terra, usada por agricultores e moradores da região. Os explosivos eram do tipo PMN, minas antipessoais detonadas por pressão, de fabricação russa. Cada uma tinha cerca de 240 gramas de explosivo TNT. Para o acionamento, basta colocar sobre ela um peso maior ou igual a 8 quilos - o equivalente a uma criança de cerca de 8 meses.
“Tem dia que tiramos dez, 15 minas da área", diz o supervisor Tomás Pantaleão. "Mas, pelo menos, saem três ou quatro por dia".
Moçambique ainda tem longas áreas a serem desminadas. Além da linha de transmissão de energia de Moamba (cerca de 200 quilômetros), praticamente toda a fronteira entre Moçambique e o Zimbábue (cerca de 2 mil quilômetros) ainda deve passar pelo processo.
Segundo estimativas das entidades internacionais de direitos humanos, a cada 20 minutos explode uma mina terrestre e fere pelos menos uma pessoa em algum lugar do mundo.
Edição: Graça Adjuto