Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Quinze jovens de sete países do Hemisfério Sul – entre eles o Brasil – estão promovendo uma verdadeira mudança na forma de tratar questões como a transmissão do HIV e sexualidade. Reunidos em Brasília desde ontem (12), eles participam do encontro Laço Sul-Sul Jovem, iniciativa inédita do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) que coloca os jovens como protagonistas na elaboração de políticas para o combate de doenças sexualmente transmissíveis (DST), em especial à aids.
A versão “adulta” do projeto Laço Sul-Sul, criada pelo Brasil em 2004, conta com a participação da Bolívia, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, do Paraguai, de São Tomé e Príncipe, do Timor Leste e da Nicarágua. “Até então só participavam técnicos que debatiam o acesso a medicamentos, sendo que o Brasil é o maior fornecedor de remédios para os demais países”, disse o coordenador regional do Programa HIV/Aids para a América Latina e Timor Leste, Mark Connolly.
Com a criação da versão “jovem” do programa, o Unicef quer colocar a prevenção em primeiro plano. “Queremos criar lideranças na juventude para atuar com outros jovens, orientando sobre práticas sexuais seguras, principalmente dentro das escolas”, explica Cristina Albuquerque, representante do Unicef no Brasil para o programa. Outro objetivo do encontro é criar uma rede de comunicação para a troca de experiências e informações.
Alberto Piedade, da delegação do Timor Leste, viajou três dias para participar do encontro. A experiência que ele trouxe é curiosa: em seu país, quem encampou o combate à disseminação da aids foi a Igreja Católica. “Parece estranho imaginar a Igreja, que é contra o uso da camisinha e também contra o homossexualidade e o aborto, tratar sobre esse tema. Mas a instituição não quer esperar de braços cruzados que mais pessoas morram com a doença”, justifica o jovem que atua na Congregação dos Salesianos.
Ele explica que o Unicef buscou uma parceria com a Igreja Católica porque o governo do país é muito corrupto e não tem credibilidade na sociedade. “Levamos informações sobre o vírus, sobre o contágio e sobre como lidar com a doença. A única diferença é que pregamos o celibato e o sexo dentro do casamento, e não a camisinha, como forma de evitar as DST.”
A paraguaia Linda Marchuk acredita que o seu país está muito atrasado no desenvolvimento de políticas educacionais sobre sexualidade. “Só agora o governo está terminando uma legislação que traçará uma diretriz sobre o tema. Antes, qualquer instituição chegava às escolas e falava sobre sexualidade e prevenção, muitas vezes com ideias divergentes. Não sabíamos o que era certo nem quem ouvir.”
Representante da delegação brasileira, Hugo Soares conta que o país é um dos mais avançados no envolvimento de jovens contra a transmissão de DST e também nas políticas sobre direito reprodutivo e sexual. “Os ministérios da Saúde e da Educação têm o programa Saúde e Prevenção nas Escolas, que atua não só nas escolas mas em toda a comunidade. Jovens líderes falam de igual para igual com os colegas, o que facilita a troca de informações.”
O jovem acredita que o maior desafio do programa é sensibilizar alguns estados que ainda não estão totalmente engajados na promoção da saúde sexual entre os adolescentes. “Nossa estratégia é uma forte campanha em redes sociais e blogs. O jovem vê que aquilo não está acontecendo no seu estado e se mobiliza para mudar isso.”
No final da reunião de hoje, os jovens irão elaborar a Carta de Brasília, documento com recomendações para que o mundo esteja mais preparado para lidar com a saúde sexual da juventude. A carta será levada para a Mostra Saúde e Prevenção na Escola, que começa hoje (13), às 19h, em Brasília.
Edição: Juliana Andrade