Vinicius Konchinski*
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - As falhas no atendimento à população de rua acabam colocando parte da população e comerciantes de bairros de São Paulo contra os moradores de rua. A remoção de cerca de um grupo de moradores de rua do espaço abaixo do Viaduto Plínio de Queiroz, na Praça 14 Bis, no centro de São Paulo, é um exemplo disso.
De acordo com comerciantes, os moradores de rua que se abrigavam no local atrapalhavam o trânsito de pessoas, prejudicando as vendas. As ações da Polícia Militar (PM) e a instalação de um posto da corporação em frente ao viaduto fez com que eles deixassem o local e se fixassem na calçada de uma rua vizinha, em frente ao refeitório Penaforte Mendes, que tem convênio com a prefeitura de São Paulo para servir 500 refeições diárias aos moradores de rua da região.
Mas a mudança, na opinião dos comerciantes, causou ainda mais problemas. Os lojistas agora querem a retirada do refeitório e, para isso, organizaram um abaixo-assinado entregue à prefeitura. Um dos comerciantes insatisfeitos, Dorival Lara, é dono de uma banca de jornal ao lado do refeitório. Segundo ele, desde que instalaram um posto do PM e as refeições começaram a ser distribuídas ali, o movimento de clientes na banca caiu.
“Depois que instalaram a base na Praça 14 Bis, há um ano, a situação piorou demais”, disse, enquanto observava os moradores de rua lavando suas roupas em baldes com água a poucos metros de sua banca. “O refeitório precisa sair daqui. Este pessoal não pode comer e ficar aí na frente o dia todo.”
Joeliane Dias Coelho, 36 anos, é um dos moradores de rua que vivem no local. Segundo ela, mora na rua há um ano e sete meses e não gosta de ir para o albergue. “Saí do albergue porque roubavam as minhas coisas”, disse.
Ela ainda afirmou que depende do refeitório para se alimentar e a transferência dele para outro local seria muito ruim. “No centro, há sempre a possibilidade de alguém conhecer outro que saiba de um trabalho”, afirmou, em entrevista concedida no próprio refeitório.
O auxiliar de coordenação do refeitório, Otávio Silva Pereira, disse que apesar da insatisfação dos comerciantes, o lugar é ponto de referência e de apoio para os moradores de rua e não deve ser transferido. Quanto aos transtornos causados pelos moradores de ruas aos lojistas, Pereira afirmou que algumas regras foram adotadas para evitar problemas para os comerciantes. “A gente tenta estabelecer certas regras para manter a ordem, mas é complexo, tem que envolver o Poder Público.”
O Poder Público, mais precisamente o policial, atua com certa frequência no local na retirada do material de uso pessoal dos moradores de rua, mas eles sempre retornam causando irritação aos lojistas. Procurada pela Agência Brasil, a prefeitura de São Paulo não se pronunciou sobre o abaixo-assinado dos comerciantes e a PM não respondeu à reportagem sobre a ação na Praça 14 Bis.
*Colaborou Bruno Bocchini
Edição: Aécio Amado