Desemprego é um dos problemas que levam as pessoas a morar nas ruas

30/05/2010 - 14h07

 

 

Vinicius Konchinski*

Repórter da Agência Brasil

 

São Paulo - Marcelo de Castro faz parte hoje de uma população que todos os dias procura um albergue para fugir da insegurança de uma noite dormida sob as marquises ou de um vão de viaduto. Ele ainda recorda do período em que “ganhava bem”. Trabalhava em restaurante vegetariano no bairro da Pompeia, área nobre da cidade de São Paulo. Era auxiliar de cozinha e aspirava à vaga de cozinheiro pleno e tinha onde morar.

 

“Aí, o movimento caiu e o patrão acabou diminuindo os custos. Entrei no facão”, explicou, em entrevista concedida no Espaço de Convivência Jardim da Vida, uma tenda montada pela Prefeitura de São Paulo no centro da cidade para atendimento a moradores de rua.

 

A demissão aconteceu há seis anos, mas permanece viva na memória de Marcelo como um instante que mudou sua vida para sempre. O jovem de 28 anos, ensino médio concluído, que não é e nem foi usuário de drogas, foi parar nas ruas. “O dinheiro começou a diminuir, as coisas foram se apertando”, contou ele. “Um dia, o aluguel do meu quarto venceu e não tinha como pagar. Tive que sair.”

 

Desde então, vive em um albergue municipal. Divide o “quarto” com outros 259 homens. Todo início de semana, renova a sua esperança. “Quero um emprego. Com um trabalho, depois eu consigo minha casa e tudo mais.”

 

Assim como Marcelo, muitos moradores de rua de São Paulo ouvidos pela Agência Brasil disseram que o trabalho é do que mais necessitam para sair dessa situação. Apesar de uma pesquisa realizada em 2007 apontar que 70% dessa população têm uma ocupação, mesmo que precária, o que eles mais afirmam querer é um emprego formal.

 

Para o coordenador-geral do Comitê Interministerial para Políticas para População em Situação de Rua, Ivair Augusto dos Santos, o trabalho é a melhor e mais duradoura solução para os moradores de rua de São Paulo e de todo país. Apesar reconhecer que programas de saúde e de moradia são importantes, mas é o trabalho que vai tirar essas pessoas da rua definitivamente. Porém, segundo ele, é preciso que se dê condições para que os moradores de rua, no mínimo, procurem um emprego.

 

Luiz Carlos de Souza, 44 anos, por exemplo, reclama que não tem tempo para procurar trabalho. Desempregado há um ano e meio, passa mais da metade do dia na porta de um albergue no centro da cidade para conseguir uma vaga de pernoite. “Fico aqui o dia inteiro. Como posso procurar emprego”, disse. Já para Joeliane Dias Coelho, 36, o problema é a falta de documentos. “Nem procuro mais trabalho. Enquanto não tiver meus documentos, não adianta”, afirmou, lembrando do dia em que foi roubada enquanto dormia na rua.

 

*Colaborou Bruno Bocchini

 

 

Edição: Aécio Amado