Lula nega ter feito proposta de troca de urânio enriquecido por combustível a Ahmadinejad

05/05/2010 - 14h20

Yara Aquino e Renata Giraldi
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou hoje (5) que tenha proposto ao Irã a troca de urânio levemente enriquecido por combustível nuclear, como afirmou o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Sem entrar na polêmica, Lula defendeu a retomada do diálogo da comunidade internacional com o Irã e o direito de o país desenvolver um programa nuclear próprio para fins pacíficos. Segundo o presidente brasileiro, o objetivo dele é contribuir para a paz mundial.

No próximo dia 15, Lula viaja para o Irã. Otimista, o presidente afirmou estar “entusiasmado” com as conversas que manterá nos dois dias que ficará em Teerã. “Estou muito otimista de ir ao Irã e tentar conversar com o presidente Ahmadinejad e com outros líderes a melhor saída, porque queremos paz. Uma guerra tem dia para começar, mas não tem para terminar e a paz é eterna”, disse ele, depois de uma cerimônia no Itamaraty.

Lula evitou mencionar a informação divulgada hoje pelo presidente iraniano. No site oficial da Presidência da República Islâmica do Irã, Ahmadinejad, afirmou que “a princípio” aceita a proposta sobre a troca de urânio por combustível nuclear atribuída ao presidente brasileiro.

“O que tenho dito e desejo para o Irã é o que desejo para o Brasil: primeiro, somos proibidos pela Constituição brasileira de fabricar armas nucleares, portanto, o Brasil tem autoridade moral e política de lutar contra o desarmamento e de ser contra armas nucleares”, disse Lula.

Segundo o site oficial da Presidência iraniana, Ahmadinejad citou a suposta proposta de troca de urânio por combustível durante conversa, por telefone, com o presidente venezuelano, Hugo Chávez. O diálogo ocorreu no momento que a comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos, pressiona para a adoção sanções contra o Irã, argumentando que há no país produção de armas atômicas.

Lula reiterou a defesa do direito de o Irã desenvolver seu programa nuclear próprio desde que para fins pacíficos. “Defendemos o direito de produção de energia de remédios. Portanto, o que nós queremos para o Irã é o que queremos para nós e para o mundo, na expectativa de que os países que já têm bombas nucleares comecem desativando [seus arsenais]”, afirmou.

Em seguida, o presidente acrescentou: “Todo mundo tem que fazer a mesma coisa: [defender o] desarmamento tem que ser total e absoluto e temos que caminhar para isso. Se o Brasil puder dar uma contribuição, pode estar certo de que vamos dar.”

Lula ressaltou que mantém conversas sobre a questão nuclear com líderes políticos estrangeiros. O presidente citou diálogos com autoridades da China, da Índia, da África do Sul, dos Estados Unidos e da França. “Se houver possibilidade de construir [em parceria com esses países] uma agência e também com os que participam do Conselho de Segurança [da Organização das Nações unidas] e o Irã uma proposta que seja aceita pelos dois lados, [isso] seria tudo de que o mundo precisa”, disse.

Mais uma vez, o presidente destacou a necessidade de se buscar uma alternativa que visa à paz mundial. “O mundo precisa de paz para se desenvolver, para crescer economicamente e para melhorar a vida do povo. O Brasil está empenhado nisso”, disse. “Não apenas o Brasil, que tem trabalhado ao lado da Turquia nisso, como tenho conversado com os principais líderes do mundo a esse respeito e espero que a gente consiga”, completou.

Edição: Juliana Andrade