Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – No ano em que a capital federal faz 50 anos, a socióloga Bárbara Freitag, professora emérita da Universidade de Brasília, lança o livro Capitais Migrantes e Poderes Peregrinos: O Caso do Rio de Janeiro (Papirus Editora), sobre a antiga capital do país; e resgata a história social do Brasil desde 1763 (quando o Rio tornou-se a capital do vice-reinado) até os dias atuais.
“O Rio de Janeiro é uma das cidades mais antigas no Novo Mundo e caracteriza todos os momentos do desenvolvimento de uma nova sociedade que integra três raças e habitantes de vários continentes. É uma cidade que talvez tenha o rosto mais adequado do Brasil, mais brasileiro nisso, nessa simbiose de culturas, etnias”, disse Bárbara Freitag.
Segundo a autora, o livro analisa as causas econômicas, políticas, culturais e históricas das mudanças pelas quais passou o Rio de Janeiro e as consequências das diversas transformações ocorridos em mais de dois séculos. A publicação é fruto de pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) entre 2000 e 2008 sobre “itinerâncias urbanas” percorridas pelo Rio.
O último deslocamento analisado é a transferência da capital para Brasília. Bárbara Freitag assinalou que a mudança de capital foi acompanhada pela sociedade brasileira, mas ela efetivamente não participou da decisão. “As populações não votaram a mudança na capital em nenhum momento, sempre foram atos autoritários decididos de cima. Não houve uma tentativa de verificar o que a população acharia de bom e de ruim”.
O processo de deixar de ser capital para ser uma cidade comum, que a autora chama de “descapitalização” é recorrente nas itinerâncias urbanas no Brasil. Segundo ela, isso ocorreu nas transferências de capital estadual entre Ouro Preto e Belo Horizonte (no final do século 19), Goiás Velho e Goiânia (nos anos 30 do século passado); e Salvador e o Rio de Janeiro (no final do século 18).
Para escrever sobre as diversas fases do Rio e como a cidade criou sua própria imagem, Bárbara analisou documentos, mapas, relatos, cartas, literatura, filmes e canções. “Existe uma possibilidade de colagens a partir de várias manifestações culturais”, afirma ao explicar a forma que fez a pesquisa. Além do Rio, a socióloga já estudou as configurações urbanas de Brasília, Lisboa e Berlim, sua cidade natal.
Em Berlim, para onde voltou como estudante universitária na década de 1960, depois de morar no Brasil, Bárbara viveu a divisão da cidade entre o Ocidente e o bloco soviético por causa da Guerra Fria; anos mais tarde, assistiu e estudou a reunificação e “recapitalização”, depois da queda do Muro de Berlim (1989).
Segundo ela, ocorreu em Berlim um movimento inverso ao do Rio de Janeiro, que além da perda de status de capital federal, sofreu nos últimos 50 anos com a ditadura militar e com a fusão com o estado da Guanabara. Esses processos levaram ao agravamento de problemas sociais e geraram um sentimento de nostalgia carioca, também compartilhado pela autora.
“Cheguei a desenvolver um sentimento de saudade do Rio, de outras eras, de outros tempos. Rio que jamais conheci e que até mesmo para cariocas natos nunca existiu, ou não existe mais”.
Edição: Tereza Barbosa