Brasília festeja 50 anos depois de cinco meses de crise política

21/04/2010 - 17h02

Carolina PImentel

Repórter da Agência Brasil

 

Brasília – Uma reviravolta no cenário político local, envolvendo autoridades e empresários da cidade em denúncias de corrupção, marca a festa dos 50 anos de Brasília. A capital ganhou, há poucos dias, um novo governador, Rogério Rosso, eleito indiretamente pela Câmara Legislativa do Distrito Federal e aliado do antigo ocupante do cargo, José Roberto Arruda, que foi preso e teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral.

 

Há cinco meses, a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), trouxe à tona um suposto esquema de pagamento de propina a deputados e suplentes da Câmara Legislativa em troca de apoio político ao então governador José Roberto Arruda, que seria o líder do grupo. O dinheiro viria de contratos do governo distrital com empresas privadas e os pagamentos seriam articulados por integrantes do primeiro escalão de Arruda.

 

A principal fonte das investigações é o ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, que firmou um acordo de delação premiada com a PF. Durval gravou vídeos de diversas autoridades recebendo suposto dinheiro de propina, como Arruda e os ex-deputados Leonardo Prudente, na época presidente da Câmara Distrital, e Junior Brunelli, então corregedor da Casa.

 

Diante das revelações, Arruda afastou os assessores apontados na investigação, entre eles, José Luiz Valente, secretário de Educação; José Geraldo Maciel, chefe da Casa Civil; Fábio Simão, chefe de gabinete e Omézio Pontes, assessor de imprensa. Porém, a djvulgação das gravações abalou a base política de Arruda - partidos aliados entregaram os cargos e o DEM, ao qual era filiado o governador, passou a cobrar explicações dele. Arruda foi o único governador eleito pelo DEM em 2006.

 

O então governador rebateu as acusações com o argumento de que recebeu o montante de Durval para compra de panetones para população de baixa renda. Em reação às denúncias, partidos e organizações da sociedade civil apresentaram pedidos de impeachment do governador à Câmara Legislativa e estudantes invadiram o plenário da Casa para protestar. Cerca de 2 mil pessoas promoveram uma passeata contra o governador em uma das principais vias da cidade e a polícia reagiu.

 

Quinze dias depois da operação policial e pressionado pelos DEM, Arruda anunciou a desfiliação do partido para evitar uma expulsão, dada como certa. Com a saída do partido, o governador perdeu a chance de concorrer à reeleição no pleito de outubro. Em dezembro, Prudente também deixou o partido.

 

Apesar dos pedidos de impeachment de Arruda, os deputados distritais decidiram sair de férias e adiaram a votação. A comissão parlamentar de inquérito que investiga as denúncias foi criada em janeiro, sendo o presidente e a maioria dos membros aliados do governador. No mesmo mês, Prudente renunciou à presidência da Câmara Legislativa. O substituto foi Wilson Lima (PR), também da base de Arruda.

 

Em fevereiro, a polícia prendeu o funcionário público Antônio Bento, que estaria tentando subornar o jornalista Edson Sombra, uma das testemunhas do suposto esquema de propina no Distrito Federal. O caso levou o Superior Tribunal de Justiça (STJ) a decretar a prisão de Arruda, que ficou detido na Superintendência da Polícia Federal até o dia 12 abril, quando a mesma Corte lhe concedeu liberdade.

 

Nesse período, o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF)cassou o mandato de Arruda por ter saído do DEM sem motivo justo – a chamada infidelidade partidária. O vice Paulo Octávio, que assumiu o Executivo local com a prisão de Arruda e também foi acusado de participar do esquema, renunciou ao cargo – mesmo chegando a anunciar publicamente que iria continuar no posto, apesar da pressão da opinião pública. Wilson Lima, então presidente da Câmara, assumiu o governo distrital.

 

A Procuradoria-Geral da República apresentou pedido de intervenção federal, sob o argumento de que o Distrito Federal estava sem comando e nas mãos de aliados do ex-governador, acusado de corrupção. O pedido está sob análise do Judiciário.

 

A cassação de Arruda levou os deputados distritais a organizar uma eleição indireta para a escolha do novo governador, que comandará a capital federal até 31 de dezembro, data em que terminaria o mandato de Arruda. Eleito com votos de 13 dos 24 distritais, Rogério Rosso (PMDB) assumiu na última segunda-feira (19) o mandato-tampão. Assim como Lima, antecessor dele, Rosso integra a base governista e presidiu a Codeplan na gestão de Arruda.


Edição: Nádia Franco