Ivy Farias
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Conhecido durante 58 anos como palco de grandes atores, destino certo para os apreciadores da música erudita e espaço livre para as artes, o teatro Cultura Artística, destruído por um incêndio em agosto de 2008, começou a ser reconstruído hoje (20). O início das obras de recuperação entusiasmou a comunidade artística paulistana.
"Quando o teatro pegou fogo, parecia que eu tinha perdido um ente querido. Eu chorava copiosamente naquele domingo", lembrou a autora teatral e assessora de imprensa de espetáculos teatrais Célia Forte. Para ela, a reconstrução do espaço é importante não apenas para os artistas, como para todos os cidadãos. "Não é só restaurar a cultura pela cultura, como entretenimento, e sim revitalizar o centro da cidade."
As obras começam com a restauração do painel que decora a fachada do teatro. Com 48 metros de largura e 8 de altura, o painel foi criado por um dos maiores artistas plásticos brasileiros, Emiliano Di Cavalcanti. "Essa obra é importantíssima para o modernismo paulista", disse a arquiteta responsável pela restauração do painel, Isabel Ruas.
Ela informou que a restauração deve durar cerca de 13 meses e está avaliada em R$ 1,70 milhão. Para que os restauradores consigam trabalhar, a engenheira Giani Pfister, da construtora Racional, responsável pela obra, vai montar uma estrutura metálica, que não atrapalhe o trânsito de carros e pedestres na região do teatro. "O painel é muito alto e estamos montando colunas de 20 metros de altura para que eles possam trabalhar", disse Gini.
Para a atriz Karin Rodrigues, viúva do ator Paulo Autran, a restauração do painel de Di Cavalcanti e a reconstrução de todo o Cultura Artística são fatos importantes para São Paulo. "Esse teatro não pode desaparecer, porque é um marco cultural da cidade", afirmou Karin.
Ela disse à Agência Brasil que a última peça em que Autran atuou, O Avarento, foi encenada no palco do Cultura Artística. "Ele amava aquele teatro, aliás, todo mundo amava. Não tinha como não amar: era como uma continuação da casa da gente", afirmou a atriz.
O teatro, fundado em 1950 e que teve um concerto de Heitor Villa-Lobos em sua inauguração, entrou para a memória de muitos paulistanos. O ator e diretor Elias Andreato lembra de quando pisou no Cultura Artística pela primeira vez: "Eu tinha 7 anos e fui lá com a escola. Fiquei encantado e nunca mais consegui esquecer aquele dia".
Segundo Andreato, o teatro era um sonho para todos os atores. "O Cultura Artística era a nossa referência, palco por onde grandes nomes passaram. Ao mesmo tempo, representava bem o que era São Paulo, pois tinha um público muito eclético, que abrigava uma plateia mais sofisticada, que apreciava música clássica, e um público mais popular, que ia para ver as peças de comédia".
No entanto, as coxias, tais como foram lembradas por Andreato, Célia e Karin, não voltarão a existir. É que a reconstrução prevê apenas a manutenção da fachada e do painel de Di Cavalcanti, já que ambos eram tombados como patrimônio histórico pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), órgão ligado à Secretaria Estadual de Cultura.
"Na segunda metade de 2012, deveremos entregar um novo teatro, extremamente moderno", informou o arquiteto Paulo Bruna, discípulo de Rino Levi, considerado um dos maiores arquitetos brasileiros e responsável pelo projeto original do Cultura Artística.
Entre as mudanças previstas na restauração, está a criação de uma sala de espetáculos (no passado eram duas) com capacidade para 1.406 espectadores. Apesar das modificações e inovações, a obra, que custará R$ 75 milhões, devolverá a São Paulo um pouco de sua tradição e significará mais cultura para os paulistanos. "É um resgate do passado", disse Célia Forte.