Monica Yanakiew
Especial para a Agência Brasil
Buenos Aires – A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, sofreu, hoje (3), um duro golpe. A oposição assumiu o controle do Senado e promete questionar a nomeação da presidente do Banco Central (BC), Mercedes Marco del Pont, e a transferência de reservas internacionais para pagar as dívidas públicas argentinas.
“O governo está numa situação difícil e de debilidade política”, disse à Agência Brasil,o analista político Roberto Barman, do Centro de Estudos de Opinião Pública.
Pela primeira vez desde 2003, os Kirchner perderam a maioria no Congresso. Até agora, Néstor Kirchner, presidente da Argentina de 2003 a 2007, e sua mulher e sucessora, Cristina Kirchner, governaram com a maioria da Câmara e do Senado.
Hoje, os senadores da oposição assumiram o controle de 13 das 25 comissões do Senado. Na prática, isto significa que podem se unir para votar contra a indicação do nome de Mercedes Marco del Pont para presidente do BC argentino.
Mercedes assumiu a presidência do BC no último dia 4 de fevereiro, no meio de uma crise institucional. Seu antecessor, Martín Redrado, foi demitido porque questionou um decreto presidencial, destinando US$ 6,5 bilhões das reservas do BC ao pagamento de dívidas públicas.
A oposição também questionou o decreto e recorreu à Justica, que proibiu o uso de reservas para o pagamento de dívidas públicas até que a Suprema Corte se pronunciasse. Cristina Kirchner acabou revogando o polêmico decreto.
Mas, no mesmo dia, anunciou outros dois decretos, que também permitem a utilização de US$ 6,5 bilhões das reservas do BC para o pagamento das dívidas públicas. Antes que a oposição pudesse recorrer à Justiça, o BC transferiu US$ 4,3 bilhões ao Tesouro Nacional, para o pagamento de obrigações aos organismos multilaterais de crédito.
Hoje, Mercedes del Pont explicou que a transferência foi feita às pressas porque o país não pode atrasar os pagamentos. “A crise é política. Ninguém na oposição ou no governo é contra pagar os credores e ninguém quer que a Argentina permaneça em default [inadimplência]”, disse o analista político Roberto Barman.
“O que a oposição questiona é a forma de agir do governo, que impõe sua vontade por decreto, ignorando o Congresso e a Justiça. O problema é que agora que perdeu a maioria na Câmara e no Senado, Cristina Kirchner terá que optar por negociar com a oposição ou governar por decreto”, concluiu.
Cristina Kirchner não se rendeu às ameaças da oposição e disse que manterá Mercedes del Pont no Banco Central e continuará governando, apesar de toda a oposição ao seu governo. Vários senadores prometeram que votarão contra a nomeação de Mercedes e que questionarão os decretos no Congresso e na Justiça.