Carnaval de Segunda resgata tradições em São Luís

16/02/2010 - 14h16

Morillo Carvalho
Enviado especial 

São Luís – A segunda-feira de carnaval é, há 21 anos, o dia do Carnaval de Segunda na capital maranhense. O trocadilho, que brinca com a data da folia e a expressão que desqualifica coisas ou pessoas, dá nome a uma festa realizada dentro e fora de um casarão do início do século 20, no centro da cidade. No casarão, funciona há 38 anos o Laborarte, um ponto de cultura que busca resgatar tradicionais folguedos maranhenses.

Criado para retomar as tradições do carnaval maranhense, num momento em que os investimentos do governo se voltavam para o desfile das escolas de samba e as brincadeiras se perdiam, o Carnaval de Segunda chega aos 21 anos comemorando o sucesso.

“Na época, o carnaval estava se restringindo muito à Passarela do Samba, mas o samba que se fazia lá não era mais a nossa batucada tradicional – estava virando uma imitação das escolas de samba do Rio de Janeiro", lembra a cantora Rosa Reis, coordenadora do Laborarte.

Segundo ela, o carnaval de rua estava praticamente acabando em São Luís. "Em 1986, montamos o espetáculo Súditos da Folia, criticando o que estava acontecendo. Foi aí que pensamos nesse carnaval alternativo, com as brincadeiras da cidade”, disse Rosa.

Uma das principais atrações do Carnaval de Segunda é o Baile da Chupeta. Criado há 13 anos, o baile é realizado nos salões do Laborarte, cuja fachada é coberta pelos azulejos portugueses que caracterizam a parte histórica da cidade.

“Quando completamos 25 anos, começamos a fazer o baile, porque vinham muitos pais com as crianças e elas faziam a maior loucura dentro desse casarão”, lembra Rosa Reis. “Na cidade, elas não tinham muitas opções”, completa outro coordenador do Laborarte, Júlio César.

“É sempre bom trazer as crianças para mostrar um pouco da cultura do nosso estado”, diz Rosângela Bentevi, mãe de Alex Vinícius, de 4 anos, um dos pequenos foliões do baile. “Viemos atrás de um lugar feito especialmente para crianças, e o ambiente é muito bom para trazermos nossos filhos”, diz Diogo Ávila, pai de Débora, de 4 anos, e João Pedro, de 9 meses.

Além de receber foliões de todas as brincadeiras tradicionais do Maranhão, como tambores de crioula, blocos de sujos, tribos de índio e blocos afro, o Laborarte oferece shows de Rosa Reis e do grupo Fuzarka, formado por músicos maranhenses que se dedicam à pesquisa e que cantam apenas músicas carnavalescas do repertório popular local. E, para não faltar tradição, é oferecido um cuxá aos brincantes – comida composta por peixe frito, camarão, gergelim e vinagreira.

Este é o segundo carnaval organizado pelo Laborarte após a morte do fundador do grupo, Nelson Brito. Artista e intelectual maranhense, Brito morreu de infarto, em janeiro do ano passado, perto da data dos festejos. Mesmo assim, a festa da segunda-feira foi mantida.

“Todo mundo perguntava se íamos fazer o Carnaval de Segunda, e dizíamos que sim, porque era uma coisa que o Nelson criticava muito, essa de o dono da brincadeira falecer e ela não continuar mais”, diz Rosa Reis, viúva do fundador do Laborarte.

Ao longo do ano, o Laborarte não para, proporcionando à população atividades como oficinas de danças populares e tambor de crioula. Cinquenta pessoas tocam o ponto de cultura, entre sócios efetivos e colaboradores. Quando o Laborarte surgiu, em 1972, o que se pretendia era formar um grupo forte de artistas de São Luís para desenvolver pesquisas, especialmente teatrais. Nos anos 80, passou a se dedicar à cultura popular.