Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Um fenômeno decorrente da ocupação de favelas pelas unidades de PolíciaPacificadora (UPPs) chama a atenção do mercado imobiliáriocarioca: a valorização de casas, apartamentos, barracos e terrenos nesses locais.Pesquisa do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-RJ),feita para a TV Brasil, atesta até 149% a mais no preço de umapartamento de quatro quartos em Copacabana, depois que as UPPs setornaram vizinhas destes endereços.O governo estadual estima emmais de 300 mil cidadãos o contingente beneficiado pela Polícia Pacificadora, o que representa pouco ante o milhão e meio de cariocasvivendo nas 1.020 favelas cadastradas. Mas é um número significativo,considerando-se que estas pessoas viviam em “áreas de risco”, dominadaspelo tráfico de drogas ou pela milícia paramilitar. Para a maioria, a nova realidade é positiva. “Os moradoresestão adorando, não só pela presença da polícia, como também pela voltados serviços públicos, como a luz na rua e em casa, o fornecimento deágua regular, a coleta de lixo que a Comlurb [Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro] nunca deixou de fazer,verdade seja dita”, diz o presidente da Associação de Moradores doMorro dos Cabritos, Cláudio Dias Carvalho.Um exemplo davalorização dos imóveis no Morro dos Cabritos e na vizinha Tabajaras é oapartamento, no segundo andar, do prédio em frente à sede da associação –com três quartos, sala, cozinha, banheiro e varanda. Depois de mesesoferecido por R$ 50 mil, foi vendido, na semana passada, por R$ 72 mil,graças à presença da UPP na Rua Euclides da Rocha, a principal da favela.Outro fator determinante parao aquecimento do mercado imobiliário nas favelas onde está presente aPolícia Pacificadora é a expectativa de melhorar de vida, como explicaHilda Cardoso, uma corretora informal, procurada por comerciários,ambulantes e outros profissionais de classe média baixa que vivemdistante da zona sul.“As pessoas me procuram porque eu moro hámuito tempo em Copacabana e elas querem trocar a Baixada Fluminensepor um apartamento aqui, onde vão economizar muito em passagem,alimentação e tempo. Estas pessoas vêm para cá porque esperam uma vidamais confortável, sem tanto sacrifício”, conta.Mesmo noslugares como a zona oeste, onde a UPP está presente há mais tempo, é frequente a revalorização imobiliária,conforme constatou a pesquisa em Jacarepaguá. Na Cidade de Deus, por exemplo, apartamentos de um quarto que valiam R$ 164 mil em março de 2008 despencaram para R$ 72 mil um ano depois. No mês passado, tiveram recuperação de 42% e valem hoje R$ 102 mil.No Leme, duas favelas pequenas – ChapéuMangueira e Babilônia – desvalorizavam os imóveis do bairro, pela ação detraficantes. Com a PolíciaPacificadora, os apartamentosdo Leme se valorizaram até 43%.Juntocom os serviços públicos e o fim das cobranças extorsivas sobre bujõesde gás (em torno de R$ 10 acima da tabela), a presença do policiamentopermanente permitiu também a chegada de serviços particulares, como asassinaturas de tevê. Já nas favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo – interligadas na divisa de Copacabana com Ipanema – a valorização imobiliária parece ser restrita a imóveis das ruas Saint Roman eSá Ferreira, que ficam, respectivamente, no Bairro de Copacabana. Mesmo com os aspectos positivos das UPPs como instrumento deressocialização e de integração da comunidade, apontados na pesquisa, no Morro de Santa Marta, em Botafogo, um dos primeiros a receber a polícia,há quem reclame mesmo com as benfeitorias, que incluem o plano elevado gratuito – uma espécie de bondinho para otransporte dos moradores. É o caso da doméstica Ana Lúcia, de 43 ano.“Euqueria mesmo é que eles fossem embora. Era muito melhor no tempo dostraficantes, eles ajudavam a gente, levavam criança doente no hospital.Essa polícia não respeita o morador, trata a gente na ignorância.” Anamora numa casa própria na parte mais alta da favela e, apesar dasqueixas, não venderia seu imóvel para morar em outro lugar, “por preçonenhum”.