Ocupar Alemão com polícia pacificadora é complexo mas não impossível, diz comandante

24/01/2010 - 9h51

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A ocupação do conjunto de favelas do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro,com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) não é impossível, masexigirá um trabalho longo e complexo da Polícia Militar (PM). A afirmaçãofoi feita pelo comandante-geral da PM fluminense, coronel Mário SérgioDuarte, em entrevista à Agência Brasil. Segundo Duarte, a UPP chegaráao Alemão, assim como ao Complexo da Maré e a outras grandes favelas do Rio até 2016.Desdea implantação do projeto de policiamento comunitário conhecido comoUPP, que prevê a aproximação da polícia com a comunidade e o fim docontrole de quadrilhas armadas sobre favelas, existem dúvidas sobrequando ou mesmo se haverá a ocupação do Alemão com a unidade. O Complexo do Alemão  é uma das favelas mais problemáticas para a polícia fluminense, por ter umgrande território, milhares de habitantes e servir comoquartel-general para uma das maiores facções criminosas do Rio. Desde 2007, operações policiais no conjunto de favelas resultaram emdezenas de mortes, tanto de suspeitos quanto de policiais e inocentesvítimas de balas perdidas. Além disso, o complexo é  cercadopor favelas que são controladas por quadrilhas de venda de drogas,como o Morro do Adeus, o Juramento e o Engenho da Rainha, o que poderiacausar problemas para a polícia pacificadora. “É possívelpacificar qualquer lugar, mas sabemos que a complexidade no Alemão émuito maior. Vai requerer recursos humanos maiores, um grande número depoliciais. A extensão de tempo da primeira fase [entrada da polícia nafavela], muito provavelmente vai ser maior. A segunda fase,que é a ocupação temporária, também vai ser muito maior, até que nóspossamos consolidar no modelo final com a Unidade de Polícia Pacificadora”, disse o comandante da PM. Até agora, o governodo estado já implantou seis unidades de polícia pacificadora, queatendem a nove favelas da capital. Mas a maioria dessas favelas escolhidaspara a implantação da UPP é de pequenas ou médias comunidades, na zonasul da cidade. A única comunidade de grande porte já ocupada pelaUPP foi a Cidade de Deus, no início de 2009, onde até hoje apolícia não conseguiu acabar com a venda organizada de drogas.Apreensões de armas e drogas e prisões são rotineiras na comunidade. Nofim do ano passado, uma grande operação tentou cumprir mandado deprisão para cerca de 20 pessoas que atuavam na Cidade deDeus, mesmo com a UPP. Por enquanto, a Secretaria de Segurançamantém segredo sobre a ocupação, neste ano, de grandes favelas como oAlemão e o Complexo da Maré,também na zona norte. Recentemente, o secretário José Mariano Beltrameafirmou que, em 2010, a Polícia Militar formaria mais de 3 milnovos soldados. Todos eles serão empregados na UPP. SegundoBeltrame, com esse efetivo, seria possível ocupar até 40 comunidadespequenas, ou então um ou dois complexos de favelas grandes como oAlemão e a Maré. Sobre o efetivo necessário para ocuparo Complexo do Alemão, o coronel Mário Sérgio Duarte disse que não sabeprecisar. “Se forem mil, colocaremos mil. Se forem 2 mil ou 3 mil,colocaremos esses homens no Complexo do Alemão”, afirmou. Mesmomantendo segredo sobre as próximas comunidades a serem ocupadaspela UPP, a Secretaria de Segurança já deixou claro que o projeto nãoprevê a ocupação de todas as favelas do estado com a nova modalidadepolicial. O planejamento estratégico prevê um máximo de 100comunidades, ou seja, apenas uma parte das mais de 900 favelas dacapital e de outras centenas na região metropolitana e interior do estado que sãocontroladas por grupos armados. O comandante da PM do Rio não deixou claro para aAgência Brasil qual será a estratégia da polícia para evitar que asquadrilhas armadas expulsas das favelas com UPP passem a controlarnovos territórios ou pratiquem crimes em outras regiões da cidade. Duartedisse apenas que a polícia também deve buscar fomentar redes sociais deprevenção da violência em outros pontos da capital. “O trabalho é muitoamplo. Ele não é apenas executado com as ferramentas do mundo jurídico.Essa grande estratégia de pacificação importa trabalharmos com aocupação, mas também com a criação de redes de prevenção em outroslugares”, acrescentou.