Demissão no BC argentino amplia crise e gera desconfiança entre investidores estrangeiros

09/01/2010 - 10h45

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Sem apoio noCongresso Nacional, alvo de críticas de produtores rurais e comdivergências internas em seu governo, a presidente da Argentina,Cristina Kirchner, se envolveu em mais uma polêmica nos últimos dias.Ao demitir o presidente do Banco Central (que é autônomo no paísvizinho), Martín Redrado, a presidente provocou desconfianças deinvestidores argentinos e estrangeiros e acentuou a crise política.Ontem (8) a justiça anulou o decreto de Cristina e restituiu o presidente do Banco Central ao cargo, mas ainda ontem à noite a presidente teve uma reunião com assessores e definiu que ogoverno deve apelar da decisão da justiça federal que derrubou aexoneração de Redrado decretada na quinta-feira (7), mantendo o estado de incerteza no país. Observadoresbrasileiros avaliam que, por enquanto, a crise na Argentina é questãode política interna sem efeitos nas relações bilaterais. Porém,analisam que o governo argentino vive com frequência momentos de tensão.A relação da presidente com a imprensa é delicada. Ela é acusada poralguns setores de querer controlar o noticiário.Ao longo da última semana, apresidente aproveitou todas as oportunidades para defender a utilizaçãode cerca de US$ 6,6 bilhões das reservas estrangeiras para pagarvencimentos da dívida externa em 2010. Redrado é contrário a medida e atua paraprotelar a implementação do chamado Fundo do Bicentenário – que permitea utilização dos recursos também para obras de infraestrutura e sociais.A decisão de Cristina de pagar a dívida pública com reservas externas não é usual e assusta a investidores estrangeiros. A indecisão sobre o comando do BC é mais um ingrediente a gerar dúvidas sobre a economia argentina, na opinião de analistas.A oposição partiu para o ataque contra Cristina e afavor de Redrado. Dos 257 deputados e 72 senadores que integram o parlamento, o governo é minoria. Paralelamente, na última sexta-feira(8), Cristina acusou seu vice-presidente, Julio Cobos, depromover a desestabilização do governo ao supostamente apoiar apermanência de Redrado no Banco Central. Irritada com o subordinadoque há menos de uma semana anunciou intenção de disputar as eleiçõespresidenciais em 2011, a presidente passou uma descompostura públicanele. “Eu acredito que todo mundo tem o direito de sercandidato a presidente, mas primeiro deve aprender qual é o papel dovice-presidente”, disse Cristina, em uma cerimônia pública.Para se lançar candidato às eleições presidenciais, Cobos tem de abrirmão do cargo atual. Em março, Cristina virá ao Brasil para um encontro com Lula. Nos dias que estiverfora de Buenos Aires, quem responderá pela Presidência será Cobos.  ParaCristina, é incoerente Cobos se lançar candidato, porque seria uma candidatura de oposição. Ele concorreria com o ex-presidente Néstor Kircher – maridoe antecessor da atual presidente -, enquanto participa de reuniões edecisões de governo. De acordo com ela, Cobos deverá rever sua posiçãoe verificar qual é o papel real de um vice-presidente.