Corpos achados na Baía de Guanabara podem ser indício de área de desova

23/11/2009 - 14h40

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A descoberta de setecorpos em meio ao material dragado no começo dos trabalhos dedespoluição do Canal do Cunha, na Baía de Guanabara, causouespanto a operários, técnicos e engenheiros que atuam no local,assim como a policiais e entidades da sociedade civil voltadas aocombate à violência no Rio de Janeiro.“É preciso acionaro que for possível para identificar esses corpos. Afinal, sãopessoas, não apenas vítimas das guerras entre facções criminosas,como também podem estar ali corpos de pessoas sequestradas que nuncaforam encontradas e de outros desaparecidos”, afirma a cientistasocial Sílvia Ramos, uma das coordenadoras do Centro de Estudos deSegurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.Sílviatem a mesma opinião da delegada Renata Teixeira, da 37ª Delegacia dePolícia, na Ilha do Governador – responsável pelo inquérito paraapurar o caso–, quando diz que se trata de uma área de desovausada pelos assassinos. A polícia acredita que os crimes foramcometidos em outros pontos e os cadáveres foram atirados da Linha Vermelhano canal.A coordenadora do centro explica que os grupos deextermínio são antigos, com 20 anos de atuação na cidade. “Elesnasceram da ideia de que a execução, o extermínio de pessoas,resolve o problema. Se continuar a dragagem, vão encontrar maiscorpos, quem sabe até de pessoas que entraram de carro sem querernuma área de conflito e desapareceram.”Os responsáveispelas obras de despoluição do Canal do Cunha e do Canal do Fundão,acostumados a recolher geladeiras, fogões, móveis e até carcaçasde automóveis, tomaram um susto ao deparar com os corpos, segundo oengenheiro Antônio da Hora, que coordena os trabalhos.Adespoluição dos dois canais, há tempos fonte do mau cheiroenfrentado por quem chega ao Rio de Janeiro em voos para o AeroportoInternacional Galeão - Antonio Carlos Jobim, começou há um mês e é uma dasexigências ambientais do Comitê Olímpico Internacional para arealização das Olimpíadas de 2016 na capital fluminense. Osrecursos, R$ 194 milhões, vêm da Petrobras, como resultado doacordo entre a empresa, multada pelo vazamento de pelo menos 800toneladas de óleo da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) na Baía deGuanabara, em 2000. Supervisionados pela Secretaria do Ambiente, pormeio do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea), os trabalhos têmassessoria tecnocientífica da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ).A cientista social Sílvia Ramos diz que aidentificação dos sete corpos encontrados, bem como de outrosque possam aparecer durante a dragagem dos canais, deve ser “questãode honra para a Secretaria de Segurança”. “As pessoas quevivem naquela região já são estigmatizadas, escondem seu endereço,dizem que moram na Penha ou em outro bairro, porque se contarem quemoram no Complexo da Maré não arrumam emprego, não arrumam nemnamorada.”