Estratégias de médio prazo podem diminuir importação de fertilizantes, avalia Embrapa Solos

24/09/2009 - 10h37

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Opesquisador Vinicius Benites, da Embrapa Solos, acredita que não hásolução de curto prazo para reduzir a dependência do Brasil àimportação de fertilizantes. “A saída é de médio prazo. Nãohá mágica no curto prazo”, afirmou, em entrevista a AgênciaBrasil.

Segundo opesquisador, para identificar fontes alternativas de nutrientes paraa agricultura brasileira, foi criada a Rede FertBrasil, em parceriacom diversas instituições de pesquisa e empresas privadas. A meta élocalizar produtos que têm efeito fertilizante, que possuemnutrientes, mas que, no momento, não são usados no sistema deprodução.

Benites citou os resíduos orgânicos,como lodo de esgoto, resíduos urbanos, além de resíduos deprodução animal, como dejetos de aves e suínos, que contêm grandequantidade de nitrogênio, fósforo e potássio, “ e várias vezessão jogados em aterros sanitários”.

Enmtre as medidas que podem ser tomadaspara reduzir a dependência externa brasileira de insumosestrangeiros, como o potássio por exemplo, Benites destacou aimplementação de um programa nacional de transferência detecnologia.

O programa poderia orientar osprodutores sobre boas práticas no uso dos fertilizantes, ou seja,usá-los de forma mais eficiente. “A gente ainda vê muitodesperdício: uso inadequado, baixa eficiência do uso”.

Ele também sugeriu o desenvolvimentode um trabalho com o Serviço Geológico Nacional para identificarnovas minas de fertilizantes. O agrônomo reconheceu, porém, que oinvestimento em uma mina é muito alto, do mesmo modo que sua entradaem operação não ocorre em prazo curto.

Benites recomendou também odesenvolvimento de novas tecnologias em fertilizantes para melhorar aqualidade dos produtos utilizados. Benites destacou que esse étambém um dos objetivos da Rede FertBrasil. “Trabalhar comfertilizantes protegidos, de liberação lenta, de forma a melhorar aeficiência. O conjunto dessas práticas vai minimizar o nossoproblema”.

Ele disse que a situação do Brasil émuito frágil. “Um país que quer ser uma potência agrícolamundial não pode ter um grau de dependência tão grande”.Atualmente, o país importa quase 60% dos fertilizantes que usa.

Benites disse que não vê nenhummovimento oficial de alteração desse cenário, salvo a disposiçãoda Petrobras de criar fábricas no país. Ele destacou que adependência do Brasil é estrutural. Segundo o pesquisador, o paísimporta mais de 90% do potássio que usa. “É o nosso caso maisgrave”.

Isso tem uma explicação geológica,uma vez que as maiores reservas mundiais estão concentradas nohemisfério norte, principalmente no Canadá e na Rússia. A solução,frisou Benites, passa pela reciclagem.

“Sem reciclagem, nós não vamossobreviver”. Os nutrientes dos grãos, por exemplo, são tirados dosolo e acabam indo parar no lixo urbano. “Então, em algum momentonós vamos ter que trabalhar no sentido de utilizar isso de novo,porque são recursos não renováveis”.

Entre janeiro e julho de 2009, aprodução brasileira de fertilizantes somou cerca de 4,55 milhõesde toneladas, mostrando queda de 57,1% em relação ao mesmo períododo ano passado.

No Brasil, apenas três grandes gruposproduzem fertilizantes. Há 15 anos existe concentração de empresasno país. O pesquisador observou, contudo, que esse não é fatonegativo. “O oligopólio, às vezes, pode ser interessante porqueexiste um ganho de escala”.

Benites disse que é interessante quenovas empresas surjam para aproveitar oportunidades regionais,principalmente no uso de resíduos orgânicos ou de fontesalternativas.

Os problemas e soluções para o Brasilna área de fertilizantes serão debatidos amanhã (25) duranteevento promovido pela Embrapa Solos, nesta capital.