Ensino religioso em escolas públicas pode gerar discriminação, avalia professor

23/08/2009 - 1h10

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O ensinoreligioso que aborda uma doutrina específica pode gerardiscriminação dentro das salas de aula, segundo o sociólogo da Universidade Estadual Paulista(Unesp), José Vaidergorn. “O ensino religioso identificadocom uma religião não é democrático, podeser considerado discriminatório”,disse em entrevista à Agência Brasil.SegundoVaidegorn, o ensino voltado para uma determinada religião podeconstranger os alunos que não compartilham dessas ideias.O professor ressalta ainda a possibilidade de que, dependendo damaneira que forem ministradas, as aulas de religião podemincentivar a intolerância entre os estudantes.As aulas de religião estão previstas na Constituiçãode 1988. No entanto, um acordo entre o governo brasileiro e oVaticano, em tramitação no Congresso Nacional, estabelece o ensino católico e de outras doutrinas.Ainserção do elemento religioso no processo educacionalpode, segundo Varidergorn, gerar conflitos. “Em vez daeducação fazer o seu papel formador, o seu papel desuprir, dentro das suas condições, as necessidades deformação da população ela passa a sertambém um campo de disputa política e doutrinária.”Opresidente da Confederação Nacional dos Trabalhadoresem Educação (CNTE), Roberto Leão, contesta ajustificativa apresentada na lei de que o ensino religioso énecessário para a formação do cidadão.“Não podemos considerar que a questão ética, aquestão moral, o valores sejam privilégios dasreligiões”, ressaltou. Apresença do elemento religioso não faz sentido naeducação pública e voltada para todos oscidadãos brasileiros, segundo ele. “ A escola épública, e a questão da fé é uma coisaíntima de cada um de nós”.Ele indicou a impossibilidade de todos os tipos de crença estaremrepresentados no sistema de ensino religioso. Segundo ele, religiõesminoritárias, como os cultos de origem afro, não teriamestrutura para estarem presentes em todos os pontos do país.Além disso, as pessoas que não têm religião estariam completamente excluídasdesse tipo de ensino, como destacou o presidente da AssociaçãoBrasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), Daniel Sottomaior.“Mesmo que você conseguisse dar um ensino religiosoequilibradamente entre todos os credos você ia deixar emdesvantagem os arreligiosos e os ateus.”Sottomaiorvê com preocupação a possibilidade de a fése confundir com os conhecimentos transmitidos pelo sistemaeducacional.“Como o aluno pode distinguir entre a confiabilidadedos conteúdos das aulas de geografia e matemática e oconteúdo das aulas de religião?”Parao presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), domGeraldo Lyrio Rocha, a religião éparte importante no processo educacional. “Uma educaçãointegral envolve também o aspecto da dimensão religiosaao lado das outras dimensões da vida humana”, afirmou.