Busca a corpos de desaparecidos do Araguaia é "tentativa inédita de pacificação", diz pesquisador

29/07/2009 - 19h18

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Observador independente do grupo de trabalho criado pelo Ministério da Defesa para tentar localizar e identificar os restos mortais dos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, o jornalista e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Hugo Studart, diz que os trabalhos de busca iniciados no dia 7 de julho representam um “processo inédito de tentativa de pacificação entre militares e comunistas”.Para Studart, embora parte dos integrantes do grupo tenham chegado à região, no Sul do Pará, “entre desconfiados e cautelosos” em relação às reais intenções do Exército, as duas semanas gastas no reconhecimento da área onde os corpos podem ter sido enterrados demonstraram que os militares estão empenhados em localizar os desaparecidos.“Pelo que pudemos notar, o real objetivo do Exército é colocar um ponto final nesta história e na espera dos familiares. Diante da disposição demonstrada pelos militares, estou convicto de que há uma decisão política do alto comando para que todos se empenhem de verdade para encontrar os corpos”, afirmou Studart à Agência Brasil. “Pelo que eu pude observar, não há, na prática, qualquer indício de acobertamento. Pelo contrário.”De acordo com Studart, como os locais onde os os guerrilheiros e eventuais agricultores foram enterrados são incertos, a ajuda de ex-mateiros que testemunharam o episódio tem sido fundamental para o grupo definir onde serão feitas as escavações, previstas para ter início no dia 10 de agosto.“Alguns ex-mateiros viram os corpos ao relento e sabem a localização. Há inclusive ex-mateiros que ajudaram os militares a matar e a enterrar os corpos. Um ex-mateiro, por exemplo, lembra do local onde viu o corpo da guerrilheira Sônia [codinome da estudante universitária Lúcia Maria de Souza], morta durante combate e deixada ao relento”, contou Studart. “O homem viu os restos mortais quatro anos depois da morte dela, mas mesmo a área estando hoje coberta por vegetação, ele ainda se lembra do lugar. Um outro ex-mateiro indicou um ponto onde há indícios de que haja pelo menos três covas onde guerrilheiros foram enterrados.”Autor do livro A Lei da Selva, no qual analisa as estratégias e o discurso militar relativo à Guerrilha do Araguaia, Studart afirma ter sido nomeado para integrar o grupo de trabalho por indicação do reitor da UnB, José Geraldo de Souza. Em seu relato ao site Conteúdo, o pesquisador escreveu que sua indicação conta também com o aval de militares.“Integro o grupo, como observador independente, porque o reitor da UnB, que conhece muito bem meu trabalho, pois participou na minha banca de mestrado, me considera competente no tema Guerrilha do Araguaia e me indicou para o ministro. Mas integro, sobretudo, porque o general Adhemar Machado Filho, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, leu e releu meu livro e, apesar de não ter gostado de muitos trechos (ainda bem que não gostou), me considera competente no tema.”