Psicólogo que trabalha com jovens em risco diz que revitalização da Cracolândia pulveriza a região

23/07/2009 - 17h08

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Arevitalização da Nova Luz, projeto daprefeitura de São Paulo, e as ações policiaisnas ruas tomadas pelo crack estão “pulverizando” aCracolândia, afirma o psicólogo do Projeto Quixote,Lucas Carvalho, que trabalha com jovens em situação derisco, no centro.

Chama-sede Cracolândia um conjunto de ruas no centro de SãoPaulo onde o crack é consumido e comercializado abertamente.

“ACracolândia não está sumindo, está sefragmentando em diversos pontos da cidade”, alertou Carvalho,que fez a observação com base na sua experiência de trabalho com criançase adolescentes pelas ruas da cidade.

Essefenômeno, segundo ele, está facilitando o acessodas crianças a droga. “O crack está chegando maisperto delas [crianças], antes precisava ir até aCracolândia [para conseguir crack]. Agora, a Cracolândiaestá por aí”, afirmou.

Deacordo com a prefeitura,estão sendo concedidos incentivos fiscais para empresas que semudem para a região, além de obras para alargar as calçadas e melhorar a iluminação. Além disso, os hotéis usados por traficantes de crack estão sendo fechados.

APolícia Militar atua ostensivamente nas ruas onde o crack éusado livremente, como verificou a reportagem da Agência Brasil,em visita à região. As abordagens aos usuários sãofrequentes. Nessas situações, a maioria deles fogecorrendo até a próxima esquina, riscandocompulsivamente os isqueiros para manter os cachimbos acesos,enquanto se reagrupam em um outro quarteirão.

Ovice-presidente da da Associação dos Moradores eComerciantes do Bairro de Campos Elíseos (AMCCE), NelsonBarbosa, afirmou que os usuários da Nova Luz estãosendo "empurrados" para as regiões vizinhas.

“Sehoje, eles [a prefeitura] chamam lá de Nova Luz, nóschamamos as outras regiões de nova Cracolândia. Essaregião [nova Cracolândia] corresponde à SantaIfigênia, aos Campos Elíseos, à Santa Cecília e tambémà região da Praça da República”, disse Barbosa.

Atendência de que a Cracolândia mude de endereçodevido as ações policiais ocorre, segundo especialistas, porque “oproblema não é o local, o problema são aquelaspessoas”. Segundo a psicofarmacóloga da Universidade Federalde São Paulo (Unifesp), Solange Nappo, caso os usuáriosde drogas sejam realmente expulsos do centro, outro ponto da cidadepoderá ser dominado pelo crack. “Eles vão sair dali,vão para outro local e vão começar, aos poucos, amontar uma outra Cracolândia”,

Apolícia está fazendo “a sua parte” para combater oproblema do crack, defende o comandante do 13º Batalhãode Polícia Militar, tenente-coronel Osni Rodrigues de Souza.Ele destacou que a polícia realiza operaçõesdiárias, com foco principalmente no tráfico de drogas.

Noentanto, o tenente-coronel, reconheceu que só a açãopolicial não é capaz retomar as ruas dominadas pelocrack. “Ali não é só problema de polícia,se fosse só problema de polícia estava fácil deresolver”, disse.

Umtrabalho integrado, com ações de saúde e sociais,é o modelo defendido pelo psicólogo Lucas Carvalho. Para ele, é necessário “olhar aquelas pessoasenquanto pessoas” e traçar políticas públicasque resgatem a dignidade de quem vive na Cracolândia. “Seesse fenômeno da Cracolândia tem uma continuidade de, nomínimo, dez anos, não é em dois anos que vai seresolver sem dar uma continuidade de políticas públicas”,concluiu.