Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O problema das crianças eadolescentes que vivem na Cracolândia pede ações emergenciais não só no local, mas também nascomunidades de origem desses jovens. A avaliação é do psicólogo doProjeto Quixote, que cuida de crianças em situaçãode risco no centro de São Paulo, Lucas Carvalho. Para ele, nãoagir nas periferias, de onde costumam vir essas crianças, é“enxugar o chão com a torneira aberta”.
Eleexplicou que as próprias famílias desses jovens costumamviver em situação de violência. “A famíliatambém vem de históricos de violência”, ressaltou Carvalho. O conjunto de ruas do centro chamado de Cracolândia é caracterizado por um quadro de venda e consumo generalizados de crack.
Segundoa coordenadora pedagógica do Projeto Quixote, Fernanda Ramos, quando uma criança chega ao centro de São Paulo umasérie de vínculos entre ela e a comunidade jáforam rompidos. Por isso, ela ressalta a importância de haver“um trabalho na comunidade que permita olhar para essa criançaantes que ela se torne um refugiado urbano do centro de SãoPaulo”.
O jovemque enfrenta problemas no lugar onde vive “vai se descolando, aospoucos, da família dele”, explica a coordenadora do programade Educação na Rua elaborado pela FundaçãoTravessia, Fabiane Hack.
Deacordo com Fabiane, as crianças e os adolescentes vão seadaptando a viver fora de suas casas aos poucos. Primeiro, passam o dia em um lugar próximo de casa, depois, no centro da cidade e,com o tempo, estendem essas fugas até não retornaremmais. “A rua é muito dura, mas também tem o ladosedutor da liberdade e de não ter regras.”
Fabiane, quedesenvolve um trabalho de reinserção social decrianças em situação de rua, afirmou terdificuldades para trabalhar com usuários de crack. Afissura - desejo compulsivo de consumir a droga - dificulta a abordageme o diálogo com esses indivíduos. Ela destaca que atéos espaços ocupados pelos que usam crack sãodiferentes da região onde ficam os demais menores.
Apesardo contato inicial ser mais difícil, o psicólogo Lucas Carvalho, do Projeto Quixote, acreditaque a relação com uma criança residente daCracolândia acaba sendo mais “profunda e verdadeira” do quecom um menor de rua de outra região, justamente por ser mais difícil do que em outros lugares como é o caso do Vale do Anhangabaú.
Apontado como porta de entrada para os menores chegarem ao centro deSão Paulo, no Anhangabaú, as abordagens iniciais costumam ser bem recebidas porque ali já é mais frequente a visita de entidades que ajudam crianças e adolescentes.
Segundo Carvalho, osmenores que vivem na Cracolândia sofrem do que ele definecomo “desencanto”, uma perda tanto a alegria, como do própriovigor físico. “O crack,diferente da cola e do tiner, é muito mais engessante”,conta o psicólogo para explicar o porquê da apatia dos envolvidos com essa droga.
Segundoele, esse fenômeno dificulta o contato inicial, mas, quando a relaçãode confiança é estabelecida, tende a ser mais forte doque com outros jovens.
Adiretora do Centro de Referência em Álcool, Tabaco eOutras Drogas, da Secretaria Estadual de Saúde de SãoPaulo, Luisemir Lago, acredita que mesmo as crianças eadolescentes com forte envolvimento com o crackpodem ser reabilitados, desde que, além dos tratamento desaúde, exista também uma política de reinserçãosocial.
Noentanto, ela destacou que o uso continuado de uma droga tãopotente pode comprometer as funções cerebrais dessesjovens, que, por ainda não terem o organismo ainda completamente formado, estão mais sujeitos a ficarem dementes. “Ele [usuáriode crack] não conseguedepois render como um adolescente normal.”