Funk aceita trégua com Polícia Militar do Rio e suspende bailes até o próximo domingo

19/07/2009 - 11h40

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O funk carioca está em pé de guerra, mas acertou trégua de uma semana e não haverá manifestação hoje (19) na Favela Santa Marta, como programado pela campanha Funk é Cultura. O adiamento para o último domingo (26) do mês atende ao pedido do novo comandante da Polícia Militar na área, coronel Roberto Gil, recém-empossado.“Amudança na cúpula da PM mudou todo mundo. O comandante anterior naSanta Marta tinha dito que não deixaria a gente fazer a Roda de Funk,mas o novo comandante pediu uma semana para se aproximar dacomunidade e nós concordamos”, explicou MC Leonardo, presidente daAssociação dos Profissionais e Amigos do Funk (Apafunk) e líder dacampanha. “Nosso movimento é político, é isso que tenhoconversado com os comandantes da PM onde apresentamos a roda. Quando apolícia ameaçou proibir na Santa Marta, nós íamos entrar com um mandadode segurança, mas não foi preciso, porque o novo comandante nos chamoupara conversar”, disse.Do outro lado, a Polícia Militar do Rio de Janeiro registraque a questão teve início na atuação do 6º Batalhão da PM, que abrange do Morro daMangueira ao Alto da Boa Vista, passando por Tijuca, Grajaú e VilaIsabel. Na sexta-feirada semana passada (10), atendendo a reclamações de moradores, equipes dobatalhão estiveram no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e noMorro do Salgueiro, na Tijuca, antes da realização de bailes programados.“Verificamosse tinham autorização e se atendiam às determinações. Como não seenquadravam em nenhuma das condições, os bailes não aconteceram”, informou orelações públicas da PM, major Oderlei Santos. A PM rechaça aacusação de impedir qualquer atração cultural ou religiosa e, de acordocom o major, age apenas movida pela sociedade. “A PM vai até a festascaseiras, em condomínios, quando chamada, porque os organizadorespassam da hora e fazem barulho, ou brigam, seja pelo que for o chamado”, garantiu o major. O protesto da Apafunk não tem como alvo central a ação da Polícia Militar, mas sim a lei estadual, de junho doano passado, sancionada pelo vice-governador Luiz Fernando de Souza, o“Pezão”, e cujo parágrafo terceiro diz exige que, para realizar esse tipo de baile ou qualquer outra manifestação cultural, os organizadores precisam solicitar permissão, com 30 dias de antecedência, à Secretaria de Segurança.A lei resultoude projeto do então deputado Álvaro Lins, hoje cassado e preso porcorrupção, no presídio Bangu 8. Chefe de polícia no governo AnthonyGarotinho, ele compartilhava da opinião geral deque o funk era reduto de traficantes e criminosos em geral, sobretudo apartir da popularidade de grupos, como o Bonde do Tigrão, e outros queempregam vocabulário característico da marginalidade.Paraderrubar a lei, a Apafunk e outras instituições culturais contam com oapoio político de alguns deputados estaduais, entre eles MarceloFreixo, do P-SOL, autor de projeto revertendo seu caráter restritivo.A trégua até o próximo domingo (26)parece ser apenas um breve período para o movimento Funk é Culturaganhar mais força e intensificar as Rodas de Funk em comunidadescarentes, em desafio à Polícia Militar e à legislação proibitiva dosbailes tão populares que atraem por volta de um milhão de jovens todosos meses no Rio de Janeiro.