Pesquisador defende aproveitamento de áreas degradadas e de várzea na Amazônia pelo agronegócio

16/07/2009 - 9h04

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Épreciso proibir ações de exploraçãoagrícola que promovam desmatamento e substituiçãoda vegetação original por lavouras de ciclo curto oupastagem na Amazônia. Sem isso, áreas extensas da regiãopodem chegar, em alguns anos, a um estágio de devastaçãoirreversível. O argumento foi apresentado nessa quarta-feira(15) pelo agrônomo e professor do Departamento de Humanidadesda Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), AmílcarBaiardi, em Manaus, durante a 61ª Reunião Anual daSociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).Paraele, as terras firmes de florestas densas devem ser o foco de maiorpreocupação. “São áreas em que, nomáximo, pode ocorrer um aproveitamento restrito e limitado,com sistemas agroflorestais envolvendo lavouras de ciclo longo,preferencialmente. Dessa forma, é possível expandir aprodução de alimentos na Amazônia sem prejuízoà floresta, não só pensando na segurançaalimentar, mas também em negócios que viabilizememprego, renda e interesses de empreendedores”, destacou ocientista.Em entrevista à Agência Brasil,Baiardi explicou que limitar de forma mais intensiva as açõesde desmatamento na Amazônia não significa impor o fim daprática da agricultura na região. Ele defendeu o uso detécnicas que garantam a utilização do territóriode forma menos agressiva e, ainda, o incentivo a métodos quepermitam melhor aproveitamento das áreas de várzeas e daquelas já degradadas. O pesquisador reconhece que oagronegócio é uma das atividades econômicas maisimportantes do país, responsável, segundo ele, por 4%do Produto Interno Bruto do país (PIB). Desde a décadade 70, o agrônomo realiza pesquisas sobre a economia rural daAmazônia. Após quasequatro décadas de estudo, ele concluiu que o desenvolvimentodo agronegócio na região não pode estar emconflito com a preservação da floresta e do sistemahidrológico. Segundo o pesquisador, a Amazônia detémpelo menos 8 milhões de hectares de áreas de várzeaque poderiam ser mais bem aproveitadas, inclusive, pelo agronegócioque, na avaliação dele, atualmente está emdesacordo com a racionalidade ambiental.“Hoje o quese faz na Amazônia em agronegócio é bastantecriticável. O que se pode fazer é desestimular o que jáexiste e criar alternativas melhores de agronegócio. Claro quea Amazônia não pode ficar eternamente dependente daprodução de alimentos de outras regiões do país,mas tudo deve ser pensado para ocorrer de forma sustentável.Atualmente, o agronegócio praticado na região estáse expandindo numa área em que não deveria se expandir,que é a área de terra firme”,acrescentou.Levantamento feito pelo pesquisador revela quepelo menos seis modelos deagronegócio são passíveis de seremimplementados na Amazônia sem comprometer a floresta. Entreeles estão extrativismos coletivos, com o uso de técnicasde manejo sustentável, de plantas que podem ser utilizadas emmedicamentos ou cosméticos, por exemplo. Outra atividaderentável e alternativa ao agronegócio seria a prestaçãode serviços florestais. “Mas tudo isso deve ser feito comembasamento científico e tecnológico”, ressalva.“Embora possível no ambiente amazônico, oagronegócio deve estar sempre condicionado a normas desustentabilidade dos biomas e ecossistemas regionais. A várzeapode desempenhar um papel extraordinário, tanto na parte deprodução vegetal quanto na parte de produçãoanimal. Numa abordagem racional, com conhecimentos de engenhariahidráulica, pode-se viabilizar um aproveitamento maissistemático e permanente dessas áreas, que podem serutilizadas em ciclos curtos como no caso de grãos e tambémna produção de fibras”, exemplificou o docente da UFRB.