Nova Iguaçu dribla histórico de violência com ações sociais bem-sucedidas

12/07/2009 - 10h48

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Famosa pela violência, que chegou a transformar alguns dosseus bairros em áreas de “desova” de corpos de pessoas mortas por grupos de extermínio,Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, muda gradativamente seuperfil. Hoje, com mais de 830 mil habitantes e longe de ser um oásis depaz e prosperidade, a cidade é apontada como exemplo de ação social bem-sucedida no estado do Rio de Janeiro. Principalresponsável por essa mudança, o programa Bolsa Família tem em torno de47 mil famílias inscritas na cidade, das quais pouco mais de 34,6 milrecebem mensalmente a ajuda federal. O restante não ganhanada, embora também inscrito. E são essas famílias o principal público daprefeitura municipal na campanha de recadastramento, que começou no mêspassado e se estenderá até o fim de agosto. Exigênciado Ministério do Desenvolvimento Social, que coordenanacionalmente o programa, os beneficiários têm de atualizar informaçõespessoais e familiares a cada dois anos, sob risco de perder o repassemensal da ajuda financeira. De acordo com a gestora do Bolsa Família emNova Iguaçu, Elaine Medeiros, o trabalho tem encontrado boareceptividade: “Temos promovido reuniões em lugares de risco,mas não tivemos qualquer problema. Em Vila de Cava, por exemplo, orecadastramento foi até as oito e meia da noite, na mais absolutatranquilidade.”A menção à Vila de Cava, um dos bairros maispobres e afastados de Nova Iguaçu, não é gratuita. Desde a década de70, época dos “esquadrões da morte” integrados por policiais, nosterrenos ermos do bairro eram assassinados criminosos ou suspeitos de crimes e pessoas comunsdelatadas por comerciantes ou perseguidas por razões particulares. Hoje, Esquadrão da Morte e Mão Branca, entidade que assinava oscomunicados de execuções sumárias, são meras lembranças dos habitantesmais antigos da Vila de Cava, de Posse, Cabuçu, do Km 32 e de outras localidadesde Nova Iguaçu, mas a insegurança ainda persiste em outro nível e comoutros atores, sempre gente de fora do lugar.“Nosso trabalho derecadastramento nesses lugares mais distantes e pobres é a prova de quea prefeitura está presente, coisa que não acontecia até algum tempoatrás. As pessoas, mesmo as mais humildes, percebem essa presença e sesentem mais seguras para procurar aquilo que o governo oferece e queelas têm o direito de ganhar”, diz a gestora local do Bolsa Família:“Na verdade, eu não vi medo de violência urbana nos lugares ondepromovemos reuniões.” A Secretaria Estadual de SegurançaPública registra a redução gradativa dos índices de violência em NovaIguaçu desde 2006, quando foi criado o Gabinete de Gestão Integrada deSegurança Pública, harmonizando a ação das diversas polícias e do Judiciário, e foi intensificado o Bolsa Família, com a procura defamílias que poderiam se cadastrar. Em 2005, pouco mais de 12mil famílias eram beneficiadas pelo programa e o número de homicídiosdolosos foi de 424, de acordo com o Instituto de Segurança Pública dogoverno estadual. No ano passado, era de 34.611 o número de famílias atendidas e o número dehomicídios foi de 350, segundo a mesma fonte.Estudante de assistência social, Elaine Medeiros destaca que o Bolsa Família é oúnico programa de transferência direta de renda para a população pobre,ou famílias com até R$ 136 mensais per capita. “Mas aqui a realidadeé mais dura, a maioria das famílias está na faixa de menos de R$ 68 per capita ao mês, limite da linha de pobreza.” Ela considera,também, que o fato de o dinheiro ser repassado diretamente aobeneficiário, sem intermediação nem tutela, é um fator decisivo para amelhoria da autoestima e da confiança das pessoas. “Além disso, ocomprometimento com as contrapartidas como a frequência e oaproveitamento escolar das crianças [exigência do programa, assim como o cumprimento do calendário de vacinação e a frequência a programas socioeducativos pelas crianças] dá mais responsabilidade àsfamílias, reforça o sentido de cidadania.”Para Elaine, o grande problema deNova Iguaçu e de sua região periférica carente é odesemprego, sobretudo masculino. A prefeitura desenvolve programas deconscientização do homem agressor e promove ações de qualificação profissionalem parceria com o governo federal. “As mulheres conseguem empregos defaxineira, diarista, doméstica,mas os homens sofrem mais para voltar ao mercado. Muitas vezes temoscomo encaixá-los numa vaga, mas não são aprovados por falta dequalificação profissional.”Em todos os locais derecadastramento, as crianças com até 7 anos puseram em dia a cadernetade vacinação e submeteram-se a controle de peso e altura. Gestantesreceberam consulta do pré-natal, mães em fase de amamentação tiveramexame clínico e uma nova exigência do Bolsa Família também foiatendida: a pesagem das mulheres em idade fértil.Além de serecadastrar no programa, os moradores de Nova Iguaçu puderam se inscrever emmais dois projetos desenvolvidos em parceria com o governo federalpara beneficiários do Bolsa Família, o ProJovem Adolescente, queoferece atividades culturais e esportivas para jovens de 15 a 17 anosfora do turno escolar, e o Planseq, para capacitação profissionalde adultos na área de construção civil.