Inadimplência de 10% não é problema para o Banco Bem

30/05/2009 - 13h48

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Banco Bem, que começou em 2005 com um ativo de R$ 19 mil, hoje, movimenta no Morro de São Benedito e nas nove comunidades que formam o chamado Território do Bem, em Vitória, mais de R$ 400 mil. O banco possui uma inadimplência próxima de 10%, mas a preocupação com esse índice é pequena, de acordo com a coordenadora do banco, Leonora Michelin Labossière Mol. "Em um banco solidário, a inadimplência alta não tem tanta importância como num banco comum porque, na maior parte das vezes, a própria comunidade consegue desenvolver estratégias para ajudar a pessoa que não conseguiu pagar o que pegou emprestado. A sustentabilidade desse banco é dada pela união do grupo”, afirma Leonora. O dinheiro do banco fica no caixa do correspondente bancário, que, no caso do Banco Bem, é da Caixa Econômica Federal. Como existe esse correspondente, os moradores podem, por meio do banco Bem pagar contas, receber benefícios como o Bolsa Família e outros. Podem até mesmo optar por receber parte do benefício em moeda Bem. A vantagem é que os comerciantes do Território do Bem, dão descontos para quem paga com a moeda social. “Isso reforça que a riqueza produzida na comunidade fique dentro da própria comunidade”, ressalta Leonora. O comerciante do bairro, além de receber e dar desconto para quem paga com a moeda social, pode ainda pagar suas contas com a moeda Bem no correspondente bancário, pode dar o troco em moeda Bem, caso o comprador queira, e ainda pode pagar parte do salário do funcionário que mora no bairro com a moeda local. O Banco Bem funciona atualmente com três linhas de crédito: uma destinada a consumidores, outra para empreendedores e outra de crédito imobiliário. Para os consumidores, o valor máximo do empréstimo é de R$ 50 ou B$ 50 ben. "Às vezes a pessoa tem necessidade de comprar gás e não tem dinheiro. Ela pode ir ao banco e pegar até B$ 50 bens emprestado. Depois, ela pode nos devolver, tanto em real, quanto em moeda Bem, com juro zero”, explica a coordenadora. Já a linha de crédito destinada aos empreendedores possui um limite do valor do empréstimo de R$ 5 mil. “O comerciante pode pegar o crédito produtivo, tanto para começar, quanto para ampliar ou melhorar o seu negócio. Nesse crédito a gente tem uma taxa de juros de 0,5 até 1%”, informa Leonora. A política de crédito do Banco foi aprovada pela comunidade por meio do conselho chamado Bem Maior. Para conceder o crédito produtivo, não há consultas aos sistemas tradicionais de proteção ao crédito. O empreendedor precisa que a transação seja aprovada por esse conselho e ainda contar com a aprovação de seus vizinhos. Agentes de crédito, que são contratadas pelo banco, vão até a casa da pessoa que pretende tomar o empréstimo. Elas fazem uma análise do empreendimento junto com ele e também conversam com a vizinhança. "É a vizinhança que diz se a gente pode emprestar ou não. Além disso, o comitê de análise de crédito, formado por pessoas da comunidade, decide como esse dinheiro vai ser emprestado”, explica Leonora.