Vírus da gripe suína faz com que atenções se voltem para a Ilha do Governador

11/05/2009 - 18h21

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Com 250 mil habitantes distribuídos em 33,5 quilômetros quadrados, divididos em 16 bairros, a Ilha do Governador, no Rio de Janeiro,vive dias de notoriedade indesejada e injustificada, na opinião de seusmoradores. Lá estão o aeroporto Tom Jobim, o Hospital do Fundão (Hospital Universitário Clementino Fraga Filho) e asprimeiras vítimas confirmadas do vírus da gripe suína na cidade. Para agravar oquadro, três dos casos confirmados no país – o jovem que chegou do México, seu amigo e a mãe de um deles – são de moradores da ilha. Eles moram no Jardim Guanabara e essas coincidências têm gerado comentários na imprensa. O primeiro rapaz contaminado do Rio de Janeiro desembarcou no Tom Jobim e, além disso, ele e os outros dois pacientes do estado estão internados em quarto isolado do Hospital do Fundão. Mas os moradores seguem a vida normalmente, ignorando os comentários. Boatos de queda na frequência do IateClube, onde se formou o time de futebol que foi ao México, por exemplo, foramdesmentidos pela presença maciça de sócios no Dia das Mães, cujo pontoalto é o almoço. Tanto no Rei do Bacalhau quanto no La Playa, onde osdois jovens internados estiveram no domingo anterior,o movimento foi igual ou superior ao do ano passado. Glória Claro,funcionária do Departamento Financeiro do La Playa, disse que as 110mesas do restaurante estiveram ocupadas praticamente por três horas, desde as 11h30. “Não vejo diferença nenhuma na frequência dorestaurante, nem da boate, que fica do lado. Aliás, não entendo porque dizem que os dois rapazes estavam bebendo cerveja na mesma garrafana boate, se lá a cerveja é servida em copo descartável, por questõesde higiene e de segurança”.A funcionária mostrou à Agência Brasil a cozinha dorestaurante, onde são usados copos de vidro, para mostrar como sãolavados. “Com detergente e água natemperatura que a Anvisa determina”, disse.O mais provável, na suaopinião, é que os dois jovens tenham comprado cerveja de ambulantes, napraça em frente à boate. A casa promove shows quase diariamente, sempre a partirdas 22h30, com samba, axé, funk, rap, reagge, forró e pagode. “Sehouvesse alguma desconfiança da clientela, o movimento teria caído, masa casa continua cheia”, completou.Maurício da Almeida, administrador do Rei do Bacalhau, na Praia da Bica, onde os rapazes também estiveram no domingo,dia 3, informou que o restaurante registrou movimento ligeiramente superior ao do Dia das Mães doano passado, mas o lucro subiu 20%. “É claro que as pessoas estãopreocupadas, porque existe uma falta de informação muito grande,ninguém sabe direito o que é essa gripe, nem governo, nem médicos,ninguém”.Segundo Maurício, sua filha, que vive em Roma há três anos e meiocom o marido, mexicano, executivo de uma multinacional da área dealimentos,  tem mostrado a mesmapreocupação que ele vê no dia a dia da Ilha do Governador. “Odesconhecido causa pânico, por isso é bom manter a calma”, recomendou. Orestaurante, há 30 anos no mesmo endereço e um dos mais tradicionais da ilha, esteve lotado das 11h30 às 15h30 e atendeu, nesse período, cerca de 900 pessoas. “Eu não vi, mas me disseram quetinha até um sujeito usando máscara de proteção, de brincadeira. Mesmona preocupação, o pessoal brinca”, disse Maurício.NaPanificação Jardim Guanabara, uma das maiores do bairro, ogerente Carlos Soares Silva disse que a única consequência da chegadado vírus da gripe suína é que alguns fregueses, agora, pedem café em copo descartável,mas são poucos. “Pode ser que a realidade mude, não sei, mas estoutranquilo porque aqui não há contato manual dos funcionários nem com opãozinho: ou usam a pinça, ou luvas de plástico”.Na calçada, abarraquinha de frutas e verduras atendida por Marcos Antônio Matosconserva a mesma clientela, com as preferências habituais, sem nenhumaexigência quanto ao manuseio das maçãs, mangas, bananas e hortaliçasexpostas ao ar livre. “Até agora ninguém reclamou de nada. A gente ouveos comentários sobre a gripe, mas nada mudou, pelo menos na minhabarraca”, garantiu.E na Escola Modelar Cambaúba, numa dasprincipais ruas do bairro, a rotina é a mesma para os cerca de 750alunos da pré-escola até o ensino médio. “Não adotamos qualquer medidaexcepcional, nem para alertar as crianças, porque não houve nenhumaorientação nesse sentido”, contou a auxiliar de secretaria Patrícia.Segundo ela, as crianças recebem rotineiramente os cuidados com ahigiene pessoal, sobretudo nos horários de lanches e de recreio.