Marco Antonio Soalheiro
Enviado Especial
Ouro Preto - De tarde, criançasfantasiadas com balões e algodão-doce e idosos, comconfetes e serpentinas, dançam ao som das mais típicasmarchinhas carnavalescas. À noite, centenas de pessoas seespremem para acompanhar espetáculos cênicos e musicaiscom sambas de tradicionais compositores ouro-pretanos, congado,maracatu e bonecos no palco. Com essa mistura, o projeto Candonguêro: Era uma Vez um Carnaval fez do Largo da Alegria, emoldurado peloscasarões seculares, um dos espaços mais agradáveisdo carnaval da cidade histórica de Ouro Preto.Moradores e turistasexperimentam a sensação de que o tempo nãopassou, ao menos, por ali, porque os demais palcos da cidade sãoocupados pelos hits que dominam as rádios do paísou por outras manifestações culturais, como o hiphop. “É uma coisaque nós ouro-pretanos não podemos deixar acabar nunca:esse carnaval tradicional com as verdadeiras músicas. Ascrianças rezam para não chover e atrapalhar a diversãodelas”, ressaltou Célia da Silva Rodrigues, 44 anos, quelevou a mãe e os filhos de 8 e 5 anos para pular carnaval noLargo. “É bom porque as crianças e idosos ganham umaopção de sair de casa e um espaço para brincar”, acrescentou Fábio Santos, 31 anos, que também levou afilha ao local.Um dos idealizadores doCandonguêro, o diretor cênico Flaviano Souza, lembra quea iniciativa surgiu como uma reação local àglobalização midiática do carnaval. O formatodas apresentações foi definido com base em pesquisahistórica dos carnavais dos anos 70 e 80. “Nossas raízesriquíssimas estavam se perdendo”, acrescentou Flaviano. Um trabalho de resgatefoi feito em especial com os principais compositores ainda vivos doantigo carnaval ouro-pretano. São eles, dentre outros,Vandico, Vicente Gomes, Jorge Adílio, Edmundo Guedes, SenhorValter, Maria do Morro e João do Pandeiro. Na última noitede carnaval, eles sobem ao palco, cantam suas músicas, sãoapresentados ao público e encerram em grande estilo uma festaque encantou turistas de todo o país. “Muitos compositoresque estavam esquecidos no carnaval estão sendo apresentados àsnovas gerações e voltaram a compor. Tem um resgatecultural do carnaval da cidade e um resgate pessoal desses artistas”,ressaltou Flaviano. Ao longo do ano, oInstituto Candonguêro, associação sem finslucrativos responsável pelas apresentaçõescarnavalescas no Largo da Alegria, funciona em Ouro Preto como escolade música e de idiomas.